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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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diversas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manifestação das interações sociais nativas, visando a análise <strong>de</strong><br />

formas mais gerais da sociabilida<strong>de</strong> do ilhéu. Tais aspectos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>tectados na<br />

observação dos inúmeros pares <strong>de</strong> interação, como entre brancos e negros, mulheres e<br />

homens, homens e homens, mulheres e mulheres, velhos e jovens, pais e filhos, políticos e<br />

eleitores, fiéis e santos, compadres e afilhados, nativos e estrangeiros etc 10 .<br />

Agora vou antecipar ao leitor, em poucas palavras e <strong>de</strong> modo a dar-lhe alguma<br />

direção, os resultados a que cheguei. Na seqüência do texto, apresento uma <strong>de</strong>scrição<br />

etnográfica relativa à sociabilida<strong>de</strong> do ilhéu, uma <strong>de</strong>scrição que navegará por entre cenários,<br />

eventos, falas e atos <strong>de</strong> interação. Na conclusão, apresento, a partir dos dados etnográficos<br />

encontrados, possíveis caminhos <strong>de</strong> análise para o <strong>de</strong>bate antropológico clássico sobre as<br />

relações jocosas e as relações <strong>de</strong> dom.<br />

Dentre os modos básicos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> observados entre os ilhéus, pu<strong>de</strong> notar a<br />

existência <strong>de</strong>:<br />

• uma intensa jocosida<strong>de</strong>, verbalmente agressiva e/ou encenada, geralmente<br />

grupal, fazendo o estranho pensar que os nativos estão o tempo todo a brigar,<br />

quando estão, na realida<strong>de</strong>, brincando disto;<br />

• o exercício permanente da rivalida<strong>de</strong> entre localida<strong>de</strong>s, clubes, ruas, times,<br />

grupos, bandas etc;<br />

• as relações <strong>de</strong> favor, que parecem fixar as pessoas entre dois pólos<br />

intercambiáveis: o do fornecedor <strong>de</strong> dádivas (doador), po<strong>de</strong>ndo ser este um<br />

político, um comerciante, um parente ou mesmo um santo; e o do recebedor<br />

10 Estudar tais relações (suas malhas, códigos e enquadres) em uma inspiração simmeliana, isto é, em uma<br />

investigação pautada na busca das formas, parece-me teoricamente promissor, na medida que, ao invés <strong>de</strong><br />

trabalhar com unida<strong>de</strong>s autocontidas <strong>de</strong> análise como raça, classe, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, cultura, gênero, etc, o observador<br />

investe na malha <strong>de</strong> relações, indo diretamente aos atos elementares <strong>de</strong> interação. Talvez aqui resida a<br />

importância que Simmel <strong>de</strong>u à distinção entre forma e conteúdo para o estudo do social enquanto interação<br />

elementar.

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