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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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<strong>de</strong>ssa contradição que <strong>de</strong>corre a força política e emocional dos movimentos étnicos. A ênfase<br />

na relação com uma coletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem estabeleceria os parâmetros da trajetória histórica<br />

e social do grupo étnico.<br />

Tudo isso provoca a sensação <strong>de</strong> um paradoxo na antropologia. Como diz Oliveira<br />

(1999: 31), a propósito nas novas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnicas dos índios do Nor<strong>de</strong>ste brasileiro:<br />

“Enquanto o percurso dos antropólogos foi o <strong>de</strong> <strong>de</strong>smistificar a noção <strong>de</strong> ´raça´ e <strong>de</strong>sconstruir<br />

a <strong>de</strong> ´etnia´, os membros <strong>de</strong> um grupo étnico encaminham-se freqüentemente na direção<br />

contrária, reafirmando a sua unida<strong>de</strong> e situando as conexões com a origem em planos que não<br />

po<strong>de</strong>m ser atravessados ou arbitrados pelos <strong>de</strong> fora.”<br />

*<br />

Dando seqüência à investigação dos contextos locais da açorianida<strong>de</strong>, envere<strong>de</strong>i pelas<br />

freguesias da ilha <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, com a intenção <strong>de</strong> estudar as festas e ritos <strong>de</strong> calendário<br />

e formas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>. Na Ilha, as freguesias mais conhecidas são as da Nossa Senhora da<br />

Lapa do Ribeirão da Ilha, ao sul e a Freguesia <strong>de</strong> Santo Antonio e Nossa Senhora das<br />

Necessida<strong>de</strong>s, ao norte. Os capítulos terceiro e quarto que tratam <strong>de</strong>sses assuntos, constituem,<br />

basicamente, duas seções <strong>de</strong> uma mesma parte, resultado da pesquisa <strong>de</strong> campo pelas<br />

freguesias locais 1 .<br />

1 A palavra “freguesia” data do século XIII (FREGUESIA: 2001: 1389), sendo originalmente usada para<br />

i<strong>de</strong>ntificar as “povoações paroquianas” <strong>de</strong> Portugal medieval. Historicamente, as freguesias constituem universos<br />

administrativos e religiosos, sob a égi<strong>de</strong> da Igreja com po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> estado. Aí, os “freguêses” formam uma<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usuários dos serviços instalados (cartório, juizado, <strong>de</strong>legacia, casa paroquial, comércio, etc), ao<br />

mesmo tempo em que partilham -ou <strong>de</strong>les assim se espera- do mundo das crenças que emanam <strong>de</strong> sua se<strong>de</strong>. O<br />

que me parece peculiarmente significativo na etimologia da forma "freguês" -sem dúvida, vigente em muito <strong>de</strong><br />

seu uso tradicional brasileiro- é a mutualida<strong>de</strong> que tudo indica <strong>de</strong>senha seu sentido básico, "freguês" sendo<br />

tanto, aí, aquele que ven<strong>de</strong> quanto aquele que compra. É <strong>de</strong>sta maneira que "freguesias" seriam espaços sócioculturais<br />

privilegiados para as prestações e contra-prestações <strong>de</strong> dádivas, dívidas, favores, obrigações e<br />

promessas.

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