30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

26<br />

entre o autor individual e as implicações retórico-políticas dos textos que escreve, e sim na<br />

tensão criativa entre teoria e pesquisa (PEIRANO, 1991). Essa tensão permanente entre o<br />

saber acumulado na disciplina e as categorias nativas apresentadas pelos informantes,<br />

impactam na personalida<strong>de</strong> total do etnógrafo, fazendo com que diferentes culturas se<br />

comuniquem na experiência singular <strong>de</strong> uma única pessoa. Desse modo, a <strong>de</strong>scoberta<br />

antropológica já é um diálogo, mas não entre indivíduos -pesquisador e nativo-, e sim entre<br />

teoria acumulada e o confronto com uma realida<strong>de</strong> que traz novos <strong>de</strong>safios para ser<br />

compreendida. O questionamento da pesquisa <strong>de</strong> campo como prática, não po<strong>de</strong> fazer per<strong>de</strong>r<br />

essa tensão essencial. De outro lado, penso que, ao mantermos a centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa tensão,<br />

que é o eixo básico da disciplina, não <strong>de</strong>ixamos também <strong>de</strong> recolocar o importante problema<br />

da escritura etnográfica na base <strong>de</strong> uma ciência com vocação pluralista, mas sem obscurecer a<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> teórica, esta sim, um exercício permanente <strong>de</strong> critica do discurso antropológico,<br />

que só po<strong>de</strong> ser feito pela produção <strong>de</strong> mais e mais etnografias. Desse modo, se a posição<br />

privilegiada do etnógrafo clássico foi relativizada pela nova antropologia, a posição<br />

experimentalista dos pós-mo<strong>de</strong>rnos não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser relativizada por uma antropologia que<br />

não abre mão daquele lado cientifico, sistematizante e generalizante da disciplina. Se isto<br />

resvala para posturas meramente confessionais, auto-absorventes - naquilo que o próprio<br />

Geertz, inspirador maior do movimento, chamou <strong>de</strong> “doença endêmica, que ao invés <strong>de</strong><br />

produzir etnografias, produz diários, reflexões metacientíficas, jornalismo cultural, ativismo<br />

sociológico - todos informados por uma sincerida<strong>de</strong> re<strong>de</strong>ntora que não passa <strong>de</strong> esperança<br />

fútil e estéril” (GEERTZ, 1989:154-156) - a nova antropologia, recai naquilo que Gellner<br />

(1997:37) <strong>de</strong>fine: “uma vez que todo conhecimento é dúbio, sendo saturado por<br />

teoria/etnocêntrico/dominado por paradigma/ligado a interesses etc, o autor, angustiado,<br />

lutando contra dragões, po<strong>de</strong> escrever o que quiser”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!