30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

191<br />

caso ela se cure ). Na sala principal da casa, estavam expostos os objetos que acompanham as<br />

novenas, cortejos e celebrações da Festa do Divino: a coroa, o cetro, duas ban<strong>de</strong>iras, a cruz<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e dois mastros com aran<strong>de</strong>las <strong>de</strong> vela, a bíblia aberta. Já o ônibus havia<br />

chegado e as pessoas entravam nele. O clima era <strong>de</strong> alegria. Muitas crianças com suas mães,<br />

muitos casais idosos e alguns pais. Vendo um estranho com máquina fotográfica no pescoço,<br />

as pessoas me olhavam meio <strong>de</strong> lado. Entraram também no ônibus todos os apetrechos da<br />

corte do imperador. Saímos com o carro lotado. Havia gran<strong>de</strong> falatório. Três carros iam à<br />

frente com o casal e família, todos puxados por uma pequena camioneta com os fogueteiros<br />

avisando a passagem. Iríamos ao ponto extremo do Sul da Ilha, a 15 km. No caminho, os<br />

fogos sem parar, lanternas piscando, enquanto as crianças falavam incessantemente, as<br />

mulheres mais velhas rezavam ave-marias e pai-nossos, cantavam também. Havia espaço para<br />

tudo ali. Lembrei do gosto <strong>de</strong>sse povo pelos cortejos festivos, por esses cordões, blocos,<br />

procissões e romarias. Isto também se dava na época das farras do boi, no carnaval, nas festas<br />

<strong>de</strong> padroeiro, nos ternos e por aí afora.<br />

Quando chegamos, houve muitos fogos e o cortejo começou a se aprumar para a<br />

entrada na capela, on<strong>de</strong> então se daria a missa. Os foliões acompanharam cantando aquelas<br />

ladainhas inventadas em honra do Divino, do imperador, dando boas vindas a todos. Começou<br />

a missa. O padre José, que já fora o pároco do Ribeirão, abriu dizendo que, por on<strong>de</strong> andara,<br />

notara que, on<strong>de</strong> havia Festa do Divino, a comunida<strong>de</strong> era especial, que só o Sul da Ilha, tinha<br />

três festas do Divino (na Freguesia, Pântano do Sul e Campeche) e que era preciso que Jesus<br />

ascen<strong>de</strong>sse aos céus para que o Divino iluminasse o povo. Era isso que o povo comemorava<br />

em todas as festas. Percebi que o padre se portava ali como co-adjutor da festa, mas sem<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> afirmar que a festa era tanto “cultural” quanto “congregacional”, associando em seu<br />

sermão a idéia <strong>de</strong> que cultura representaria o lado folclórico ou pagão do Divino. Então, antes<br />

da comunhão, fizeram a passagem das ban<strong>de</strong>iras pelos corredores, enquanto todas as pessoas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!