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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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eu chamaria a discussão sobre a eficácia simbólica das promessas <strong>de</strong>ntro do sistema local da<br />

dádiva. De início é preciso notar que as etnografias anteriormente citadas, como as <strong>de</strong><br />

Maldonado (1993), Lanna (1995), Kant <strong>de</strong> Lima (1997), Caldas Brito (1998), entre outras, e<br />

mesmo esta minha pesquisa inserem-se na longa e <strong>de</strong>batida tradição brasileira dos chamados<br />

“estudos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>”, tradição que tem em Antonio Cândido um marco fundador, com Os<br />

Parceiros do Rio Bonito (1954) 34 .<br />

Isso posto, voltamos a Lanna. Sua etnografia sobre as formas não-capitalistas <strong>de</strong><br />

sociabilida<strong>de</strong> e a lógica da dádiva numa comunida<strong>de</strong> nor<strong>de</strong>stina (o autor estuda o compadrio,<br />

as festas, as eleições, os leilões, o batismo, a patronagem, o clientelismo etc), tem, em<br />

primeiro lugar, o mérito <strong>de</strong> avançar sobre análises clássicas como as <strong>de</strong> Julian Pitt-Rivers e<br />

Eric Wolf, na medida que estas operam com uma separação funcional das esferas econômica,<br />

política e religiosa <strong>de</strong>stes fenômenos (LANNA, 1995, p. 225 et seq.). Lanna, ao contrário,<br />

reitera a noção maussiana <strong>de</strong> fato social total. Eu me associo a tais críticas e diria que tais<br />

análises clássicas reforçam uma postura teleológica quando submetem toda explicação dos<br />

processos sócio-culturais à necessida<strong>de</strong> dos agentes <strong>de</strong> reproduzir seu sistema social,<br />

marcando uma não evi<strong>de</strong>nte precedência lógica da estrutura sobre os agentes no fluxo da<br />

interação social e nas formas <strong>de</strong> experenciar o mundo.<br />

Em segundo lugar, o autor aponta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analisar a lógica hierárquica<br />

que engloba tais sistemas, uma lógica tipicamente não-capitalista que se <strong>de</strong>fine a partir do<br />

movimento redistributivo da troca <strong>de</strong> dádivas e que pressupõe <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e assimetria (op.<br />

cit., p. 235). Mais importante: tal lógica <strong>de</strong> obrigações entre patrões e empregados, entre<br />

cumpadres, nas eleições e festas <strong>de</strong> padroeiro etc. seria informada por uma concepção nativa<br />

generalizada <strong>de</strong> que haveria um “fundamento sagrado da socieda<strong>de</strong>” inerente a estas formas<br />

<strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> (op. cit., p. 209). Dizendo <strong>de</strong> outro modo, o autor parece ter <strong>de</strong>tectado que<br />

sobre a efervescência religiosa e a formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s no Brasil (PEREZ et alii, 2001, disponível em:<br />

http://www.antropologia.com.br/renatapgaua/trab.html.).

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