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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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abordagens acabam por reforçar o antigo viés da pesquisa folclórica em que, uma <strong>de</strong>terminada<br />

narrativa popular era traduzida aplicando a noção do “tradicional” àquela versão que mais<br />

“fielmente” representava aquela que se acreditava ser a verda<strong>de</strong>ira narrativa original. Em<br />

outras palavras, o que é mais autentico é julgado ser o mais fiel à sua forma original,<br />

ignorando a tradição como prática <strong>de</strong> leitura dinâmica, geradora permanente <strong>de</strong> novas<br />

narrativas e versões da história. Em outras palavras, tradições são formas vivas e <strong>de</strong>vem ser<br />

encaradas a partir do presente para que não se as fixe no passado.<br />

O que me parece importante <strong>de</strong>stacar é que estas tradições populares ou<br />

popularizadas como <strong>de</strong> origem açoriana, têm sido apropriadas nos últimos anos pelas próprias<br />

comunida<strong>de</strong>s locais como signos <strong>de</strong> pertencimento i<strong>de</strong>ntitário, algo <strong>de</strong>stinado a <strong>de</strong>marcar no<br />

contexto multiétnico da região seu espaço <strong>de</strong> existência e resistência 26 . Por isto tais<br />

manifestações <strong>de</strong>vem ser analisadas como “lutas <strong>de</strong> classificação”, como “posições-<strong>de</strong>sujeito”<br />

(WOODWARD, 2000: 12), nos contextos em que o investimento i<strong>de</strong>ntitário <strong>de</strong>fine as<br />

pautas <strong>de</strong> ação. Por isso há aqui todo tipo <strong>de</strong> controvérsia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquelas que atacam aquilo<br />

que alguns crêem serem erros e exageros no próprio campo açorianista (VEIGA, 22.08.2001;<br />

VALE PEREIRA, 1998:165), até as controvérsias relativas às reivindicações pautadas em<br />

outros campos <strong>de</strong> afirmação étnica como o afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte (MORTARI,1999) e teutobrasileiro<br />

(SEVERINO,1999). A idéia <strong>de</strong> afirmar um repertório <strong>de</strong> tradições parece<br />

fundamental em qualquer situação <strong>de</strong> etnização da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (CARNEIRO DA CUNHA,<br />

1986; GRUNEWALD, 1999, HALL, 1999). Os eventos evocativos além <strong>de</strong> constituírem<br />

cenários propícios à monumentalização cultural (O´NEILL, 1995) sinalizam a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

afirmação <strong>de</strong> um repertório <strong>de</strong> tradições. Note que a noção <strong>de</strong> tradição vai funcionar aqui<br />

como sinônimo <strong>de</strong> “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” ou <strong>de</strong> “cultura”, nestas situações que implicam <strong>de</strong>mandas por<br />

reconhecimento. Voltaremos a este ponto.

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