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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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55<br />

1.3 - A AÇORIANIDADE: DO REGIONAL AO TRANSNACIONAL<br />

Vimos que um dos traços característicos dos Açores é o processo secular <strong>de</strong> migração<br />

<strong>de</strong> sua população motivado por circunstancias que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o vulcanismo, a fome, a pressão<br />

<strong>de</strong>mográfica até a busca <strong>de</strong> maior remuneração do trabalho e a reprodução ampliada do<br />

processo migratório familiar, fenômeno conhecido como pós-migração ou migração em<br />

ca<strong>de</strong>ia (GUIBERNAU & REX, 1997).<br />

Hoje, os açorianos, espalhados pelos quatro cantos do mundo, ten<strong>de</strong>m a auto-referir-se<br />

enquanto “comunida<strong>de</strong>s” diferenciadas <strong>de</strong> “diásporas”, que incluem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

históricos como no Brasil, cuja onda migratória <strong>de</strong>u-se em 1748 a 1756, até imigrantes <strong>de</strong><br />

quarta geração, cuja ultima leva <strong>de</strong>u-se até o inicio na década <strong>de</strong> 1980 para o Canadá e<br />

Estados Unidos. Neste espectro tão sociologicamente diferenciado, a “diáspora açoriana”, tem<br />

sido hoje imaginada e emblematizada, a partir da açorianida<strong>de</strong>, uma categoria difusa e<br />

genérica, capaz <strong>de</strong> ser apropriada <strong>de</strong> diversas formas, mas que traduz ou se propõe a significar<br />

um emblema i<strong>de</strong>ntitário para toda a diáspora. Tratarei aqui da açorianida<strong>de</strong> como uma<br />

categoria análoga a outras conhecidas elaborações históricas do “caráter” <strong>de</strong> uma nação como<br />

por exemplo a “hispanidad”, “lusitanida<strong>de</strong>”, “germanida<strong>de</strong>”, “brasilida<strong>de</strong>” etc.<br />

A açorianida<strong>de</strong> é uma noção formulada inicialmente pelo escritor e ensaísta açoriano<br />

Vitorino Nemésio (1932), que inspirou-se nos estudos <strong>de</strong> Miguel <strong>de</strong> Unamuno sobre a<br />

“hispanidad” (CORDEIRO, 1998). Vitorino Nemésio [1901-1978] é consi<strong>de</strong>rado o principal<br />

escritor açoriano. Publicou “Mau tempo no canal” (1944), consi<strong>de</strong>rado o mais importante<br />

romance do Portugal mo<strong>de</strong>rno (ASSIS BRASIL, 2001). Sua obra literária ficou conhecida por<br />

representar a fixação dos valores referenciais da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural do ilhéu, uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

que, na visão <strong>de</strong> Nemésio, estaria marcada pela insularida<strong>de</strong> geográfica e psicológica, pelo

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