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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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prestavam, noite a<strong>de</strong>ntro, em trabalhos <strong>de</strong> limpeza que os pais executavam após um longo e<br />

árduo dia <strong>de</strong> trabalho. Felizmente, estas práticas <strong>de</strong>sapareceram e, são as gerações que por<br />

elas passaram, que começam a valorizar a formação acadêmica dos filhos, em <strong>de</strong>trimento das<br />

poupanças que nada valem face a novos valores que se afirmam.<br />

Enquanto manifestam-se sobre o comportamento das antigas gerações, um diálogo<br />

intenso e por vezes, tenso, vai aparecendo, mostrando uma emulação dos emigrantes com<br />

eles mesmos. Avaliam as iniciativas <strong>de</strong> apoio, as organizações comunitárias, as condutas e<br />

políticas, revelando conflitos <strong>de</strong> leituras entre as gerações. No entanto o tema que<br />

invariavelmente vem a tona é o futuro da língua portuguesa no estrangeiro:<br />

Vera, imigrante luso- canadiana, professora <strong>de</strong> língua portuguesa:<br />

Apren<strong>de</strong>r português, hoje, não é só uma questão <strong>de</strong> saudosismo. O domínio do inglês, sem<br />

dúvida importante, não nos <strong>de</strong>ve fazer renegar a outra língua e é pela diferença que muitas vezes<br />

nos afirmamos. O jovem luso-canadiano já não precisa exorcizar o anátema da língua, outrora<br />

fator <strong>de</strong> discriminação. Pelo contrário, portadores <strong>de</strong> dupla nacionalida<strong>de</strong>, só retirarão vantagens<br />

<strong>de</strong> um bom domínio <strong>de</strong> todas as competências lingüísticas da língua portuguesa. Assim um lusocanadiano<br />

terá acesso a todos os programas comunitários <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> estudo, intercâmbio entre<br />

jovens <strong>de</strong> outros países europeus e tantas outras oportunida<strong>de</strong>s que, outrora, lhe estavam<br />

vedadas.<br />

Adauto, emigrante luso-americano, jornalista:<br />

Um pouco por toda a parte da Califórnia assiste-se a festas do Espírito Santo bilíngües,<br />

ensaios <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> folclore com instruções em inglês, conferências e congressos sobre a<br />

cultura lusófona na língua <strong>de</strong> Shakespeare, etc. Há que lamentar esta situação? Penso que<br />

não. Temos que aceitar, cá e lá, que já lá vai o tempo em que a língua portuguesa era<br />

ensinada em casa. Que a aculturação da nossa gente é inevitável, que a miscigenação ocorre<br />

diariamente. Num país que ainda não se libertou da teoria do melting pot, a nossa minoria<br />

invisível e <strong>de</strong>masiadamente silenciosa, integra-se e dilui-se, particularmente nas zonas <strong>de</strong><br />

pequeníssimos aglomerados açor-americanos.<br />

Outro tema recorrente aparece nas criticas das políticas oficiais, do “saudosismo” e o<br />

problema da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior participação política das comunida<strong>de</strong>s em face <strong>de</strong> um<br />

comportamento historicamente endógeno <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong>, sobretudo a americana:<br />

Joaquim, emigrante luso-americano, político eleito na Califórnia:<br />

Des<strong>de</strong> há muitos anos que conseguimos recriar na Califórnia a ambiência das terras que nos<br />

viram nascer, através da manutenção da língua, do folclore, das bandas, as irmanda<strong>de</strong>s do<br />

Espírito Santo, as fraternais, as igrejas, as Nossas Senhoras <strong>de</strong> Fátima e dos Milagres da<br />

Serreta ou <strong>de</strong> outro sítio, e os Santo Antonio e os Santo Cristo, os Cabrilhos, e as Casas dos

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