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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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há todo um elenco <strong>de</strong> autores mais recentes que têm tratado o tema das lógicas e dos sistemas<br />

<strong>de</strong> dádiva entre os mo<strong>de</strong>rnos e que estão refletidos no M.A.U.S.S. – Mouvement Anti-<br />

Utilitariste dans les Sciences Sociales (www.revuedumauss.com), do qual fazem parte Mary<br />

Douglas e Ernest Laclau. O interessante <strong>de</strong>sse movimento, entre outras coisas (CAILLÉ,<br />

1998) é que seus intelectuais reivindicam um retorno analítico a Mauss e ao hau (o espírito da<br />

coisa), ou seja, a idéia mais contestada <strong>de</strong> seu ensaio! (GODBOUT, 2002, p. 93) 32 .<br />

Um ponto crítico que gostaria <strong>de</strong> antecipar relativo a esse <strong>de</strong>bate sobre a dádiva nas<br />

ciências sociais é que a discussão parece marcada por um pensamento dualista, por tentativas<br />

<strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> teorias fundacionais do social e pela premissa acerca da qual o dom<br />

explicaria e serviria, em última instância, para equilibrar, estabilizar e produzir homeostase<br />

diante <strong>de</strong> uma situação caótica original (MATTAR VILELA, 2002). Marcados pela idéia-<br />

-força <strong>de</strong> que há no dom, necessariamente, uma teoria da troca que o explica, autores têm-se<br />

<strong>de</strong>bruçado em avaliações antitéticas, opondo sistemas e lógicas sociais. A principal <strong>de</strong>las opõe<br />

dádiva e mercadoria. Assim temos, por exemplo, gift and commodities em Gregory (1982);<br />

lógica da reciprocida<strong>de</strong> e lógica do mercado em Polanyi (1980); homo donator versus homo<br />

oeconomicus em Godbout (2002). Ao invés <strong>de</strong> “preten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>senterrar sempre e em toda a<br />

parte a mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> formal <strong>de</strong> práticas ou significados”, a sedução dualista po<strong>de</strong>ria ser<br />

substituída por aquilo que Caillé (1998) tem proposto como a investigação do “sistema <strong>de</strong><br />

transformações da dádiva”. Com efeito, uma das questões fundamentais <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>bate é: seria o<br />

dom nada mais que um dispositivo social englobado por um mo<strong>de</strong>lo teórico fundado em uma<br />

norma universal <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> cujo princípio é a equivalência da retribuição e a simetria<br />

lógica do sistema? Esta parece ser a resposta estruturalista. Inversamente: não seria o dom um<br />

sistema <strong>de</strong> ação baseado na inelutabilida<strong>de</strong> da dívida (não na liquidação <strong>de</strong>la) e na<br />

32 Ver a primeira publicação <strong>de</strong> textos do movimento para o leitor brasileiro em Martins (2002). Para uma<br />

resenha crítica <strong>de</strong>stas discussões (exceto as do M.AU.S.S.), ver Mattar Vilela (2002). Disponível em:<br />

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003477012001000100006&lng=pt&nrm=iso.

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