30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

28<br />

experimentais. Vejamos. Marcus (1986:190), examinando formas concretas <strong>de</strong><br />

experimentação etnográfica, cita "Naven" como exemplo <strong>de</strong> um ensaio mo<strong>de</strong>rno, por sua<br />

estrutura narrativa - aquela que constrói o texto a partir <strong>de</strong> ensaios separados, tratando com<br />

temas ou interpretações diferentes sobre o mesmo assunto. O autor, contudo, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

enquadrar o estilo <strong>de</strong> Bateson, como aquele <strong>de</strong> um “cocksure English essayist, combined with<br />

a heavy dose of scientistic certainty” (op. cit.:192). Clifford (1988:146), no ensaio em que<br />

sugere que as técnicas <strong>de</strong> colagem dos artistas surrealistas, com cortes e suturas, têm muito a<br />

ver com certos procedimentos utilizados em textos etnográficos, cita “Naven” como um<br />

primeiro e inclassificável exemplo do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> colagem. Escrever etnografias a partir <strong>de</strong>ste<br />

mo<strong>de</strong>lo, ele escreve “would be to avoid the portrayal of cultures as organic wholes or as<br />

unified, realistic worlds subject to a continuous explanatory discourse”(i<strong>de</strong>m). Finalmente,<br />

Geertz (1989:27), discutindo o problema da presença autoral no texto etnográfico, vai lembrar<br />

Bateson com um <strong>de</strong>stes que “meteuse en su próprio texto”:<br />

Meterse em su proprio texto (es <strong>de</strong>cir, entrar representacionalmente en el texto)<br />

pue<strong>de</strong> resultar tan difícil para los etnógrafos como meterse en el interior <strong>de</strong> una<br />

cultura (es <strong>de</strong>cir, entrar imaginariamente en una cultura). Para algunos pue<strong>de</strong><br />

resultar incluso mucho más difícil (Gregory Bateson, cuyo excéntrico clásico Naven<br />

parece consistir principalmente en una serie <strong>de</strong> falsos comienzos y continuos<br />

replanteamientos - preámbulo tras preámbulo, epílogo tras epílogo - es quien viene<br />

inmediatamente a la cabeza).<br />

Estes comentários sobre “Naven”, seja<br />

dos antropólogos clássicos ou dos<br />

contemporâneos, negativa ou positivamente apontam para as qualida<strong>de</strong>s ensaísticas ou<br />

literárias do texto, na medida em que criticam o seu tom auto-biográfico ou experimental<br />

(Radcliffe-Brown e Malinowski) - qualida<strong>de</strong>s estas elogiadas pelos pós-mo<strong>de</strong>rnos ou, <strong>de</strong><br />

outro lado, enaltecem seu estilo retórico persuasivo, não-holístico e autoral (Geertz, Marcus,<br />

Clifford ) - qualida<strong>de</strong>s estas negadas pela antropologia funcionalista ortodoxa da época. De<br />

fato, a discussão levantada pelos etnógrafos contemporâneos, à primeira vista encaixa<br />

"Naven" como uma etnografia singular do ponto <strong>de</strong> vista narrativo. A grosso modo, po<strong>de</strong>-se<br />

Ramón Castellone). Barcelona: Ediciones Júcar.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!