O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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Nos ensaios, notava sempre uma confusão de vozes, uma mistura de sons, falas, risos e
performances individuais. O mestre ia distribuindo as peças, ensaiando partes, criando
harmonia e controlando a força do sopro e da percussão. Nas pequenas pausas, conversas
paralelas sobre futebol, mulher amada etc. Muitas brincadeiras, muita jocosidade verbal,
gozações. De fato, isso é muito comum no meio deles, como o é entre pescadores, mulheres e
jovens. Durante o próprio ensaio, assuntos são levantados aleatoriamente, e a banda vai
organizando sua agenda de compromissos, acertando cachês e datas. Pude ver garotos de 10 a
12 anos, até idosos na casa dos 70. De modo geral, os homens negros ficavam mais na
percussão dos tambores e a maioria dos brancos nos instrumentos metálicos de sopro.
Durantes os ensaios, o “mestre” tinha papel bem definido, isto é, repetir cada música ou
trecho, quantas vezes fosse necessário e normalmente no final da execução. Mas, comportava-
-se como um subordinado ao coletivo quando os músicos, intervindo em vários momentos,
pediam uma marcação melhor para tal compasso, tal introdução etc.
Houve uma vez um ensaio conjunto das três bandas da cidade, preparatório da
apresentação comemorativa ao dia do músico (25 de novembro). Na hora marcada, chegou
um ônibus fretado com os membros das duas outras bandas, trazendo também mulheres, avós
e filhos. O ônibus foi cedido, isto é, alguém fez o pedido na secretaria dos transportes. Estes
deslocamentos das bandas, estudantes, grupos
folclóricos são normalmente intermediados pelos
políticos locais.
Enquanto isso, os músicos já ensaiavam com
seus instrumentos, numa algazarra sonora
simplesmente encantadora. Quando os três maestros
Fig. 3: Ensaios da Banda N. S. da Lapa, 2001.
se apresentaram, para então começar os ensaios, primeiro disseram que haveria o sorteio de
Cardoso & Ianni (1960) e Leite (1996).