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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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Sabemos também que há muito está claro, o seu caráter situacional, (OLIVEIRA, op. cit.;<br />

WOODWARD, op. cit.), significando, numa palavra, aquilo que Cardoso <strong>de</strong> Oliveira (2000:7)<br />

chama “o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação dos contextos em que se inserem as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s totais”. Há<br />

porém uma terceira premissa que me parece hoje impossível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> incluir nas teorizações<br />

sobre i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: trata-se do seu caráter ambíguo. A questão da ambigüida<strong>de</strong> nas análises e<br />

teorizações sobre i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> - hoje mais explícita- tem uma longa tradição. No Brasil,<br />

Cardoso <strong>de</strong> Oliveira (1976: 79-109) já tratava disto, questionando: "qual a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

objeto <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong>spojado <strong>de</strong> qualquer realida<strong>de</strong> substantiva?". Ali mesmo (p. 82) ele<br />

fala da "ilusão étnica" e da "resistência da noção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>". Na tradição francesa, Lévi-<br />

Strauss (1977: 9-11) num célebre "Avant-Propos" a um seminário por ele dirigido fala em<br />

"incerteza", logo em "crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>" (p. 11). Praticamente todos os autores presentes no<br />

livro levantam a mesma questão. Ainda na tradição francesa, em função exatamente <strong>de</strong> toda<br />

essa problemática, a noção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, até hoje não parece ter maior soli<strong>de</strong>z: no<br />

"Dictionnaire <strong>de</strong> l' Ethnologie et <strong>de</strong> l' Anthropologie" (BONTE & IZARD, 1991)<br />

simplesmente não há uma entrada para "i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>", ela sendo tratada somente no verbete<br />

para "etnia" (242-247) e, assim mesmo, levando para esta última noção toda a sua incerteza e<br />

falta <strong>de</strong> soli<strong>de</strong>z.<br />

Aqueles que estudam comunida<strong>de</strong>s transnacionais <strong>de</strong> imigrantes como Ribeiro (2000)<br />

e outros como Cardoso <strong>de</strong> Oliveira (2000) que teorizam sobre o assunto, têm ressaltado este<br />

caráter <strong>de</strong> ambivalência da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos individuais e coletivos altamente expostos<br />

às forças fragmentárias da globalização cultural. O problema é que tal ambigüida<strong>de</strong> tem<br />

normalmente o sentido <strong>de</strong> um efeito negativo na caracterização das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, quando, se<br />

mudarmos a perspectiva, po<strong>de</strong>ria seu efeito ser positivado. Esta é a proposta sugerida aqui.<br />

Positivar a ambigüida<strong>de</strong>. Torna-la o mote <strong>de</strong> uma orientação, uma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> engajar-se com<br />

o outro e que implica uma abertura intelectual e estética para experiências culturais

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