O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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aqueles 400 também é dividido para aquelas canoas. Quatrocentos é dividido por sete [total <strong>de</strong><br />
canoas ] e 800 é dividido por 180 [total <strong>de</strong> pescadores da socieda<strong>de</strong>].<br />
210<br />
O parâmetro adotado para dividir os<br />
“quinhões” <strong>de</strong> peixes a que cada um tem<br />
direito é o número total <strong>de</strong> canoas (sete)<br />
multiplicado pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vezes que<br />
cada camaradagem captura uma manta <strong>de</strong><br />
tainha. A contagem dos quinhões é imediata,<br />
feita <strong>de</strong>pois da captura e requer a presença<br />
Fig. 7: Quinhões <strong>de</strong> peixes já separados. Pântano do<br />
Sul, s/d, por Viviane d`A. Hei<strong>de</strong>nreich.<br />
dos membros da socieda<strong>de</strong> ou representante. A separação dos peixes é feita sem reclamações,<br />
porque confiada à experiência e “olho” <strong>de</strong> um camarada:<br />
Jair – Aqui no Pântano do Sul tem sete quinhões, sete canoas É que cada lugar faz um<br />
parâmetro. Aqui o nosso parâmetro é por canoa. Se tem sete canoas, então ele [o vigia, o<br />
remeiro etc] ganha por todas elas. Então, se cada camaradagem, por exemplo, vai tocar duas<br />
tainhas [mantas], ele ganha 14. Então tem esses <strong>de</strong>talhes assim que é só nós é que<br />
enten<strong>de</strong>mos. São acordos que existem <strong>de</strong>ntro da cabeça da gente. Não tem nada escrito e<br />
ninguém manda fazer assim ou assado. (...) Aí vamos dividir o quinhão. Quantas pessoas tem<br />
hoje? Porque tem aqueles que faltam né, que não vieram aquele dia. Então vai se fazer uma<br />
chamada. Tem uma lista. “João”! “Veio”. “José”! “Não veio”. E conta. Então, se tiver 800<br />
tainhas e tirar aquelas pessoas que não vieram aquele dia, então, olha só, tem 120. Então<br />
vamos dividir as 800 por 120, digamos assim. Aí, faz os montes. E então, antes <strong>de</strong> fazer a<br />
divisão, eles fazem uma chamada geral. Aí vão fazendo uns risquinhos na praia pra ver quem<br />
não está. “Pedro”! “Não está”. Faz um risquinho. “Mário”! “Eu tô aqui”. Aí, no final, eles<br />
contam os risquinhos. Deu <strong>de</strong>z risquinhos. (...) Às vezes, eles mandam alguém no lugar, que<br />
tá doente. Às vezes, a mulher <strong>de</strong>le aparece e diz “olha, tá muito doente no hospital”. Aí aquele<br />
cara que foi pro hospital, ele vai ganhar também. Ninguém precisa puxar pra ele. Se vier<br />
alguém na hora dizer, né, alguém da família dizer “olha, meu marido não pô<strong>de</strong> vir porque foi<br />
pro médico”. (...) E a forma <strong>de</strong> dividir, não é nada contado, sabe? Vamos dar um exemplo<br />
assim: Tá ali 800 tainhas. Temos que fazer 100 quinhões. Aí ele vai ali, o cara que vai fazer o<br />
esquema, ele vai botar ali 100 tainhas tudo <strong>de</strong> um tamanho só. Depois ele vai pegar mais 100<br />
<strong>de</strong> outro tamanho. Sabes? Então ele ganha uma pequena, ganha uma gran<strong>de</strong>, sabes? Não tem<br />
ninguém que po<strong>de</strong> reclamar pelo tamanho. Todo mundo ganha igualzinho. É no olho. Ele<br />
separa com a mão. Essa pra cá, aquela pra lá. Todo mundo ganha igualzinho. Pela mesma<br />
quantida<strong>de</strong>, peso, com ova, sem ova. Aí inclui também, os remeiros, o chumbereiro, eles