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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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Na segunda parte da pesquisa local (capítulo 4), tratei <strong>de</strong> compor uma etnografia das<br />

formas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> entre os nativos da Ilha <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>. Inspirando-me na obra <strong>de</strong><br />

Georg Simmel (LEVINE, 1971) e na mo<strong>de</strong>rna análise antropológica dos rituais (PEIRANO,<br />

2000), <strong>de</strong>screvi cerimônias e procissões religiosas, festas do Divino, festas comemorativas,<br />

folias, reuniões <strong>de</strong> família, ensaios <strong>de</strong> banda, encenações teatrais, conversações espontâneas,<br />

fofocas <strong>de</strong> vizinhança, mobilizações para o trabalho comunitário entre pescadores,<br />

performances verbais jocosas, troca <strong>de</strong> favores, eleições e pagamentos <strong>de</strong> promessas aos<br />

santos <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção. Sugeri que a sociabilida<strong>de</strong> ilhôa - focalizada a partir dos espaços sociais<br />

locais (freguesia, vizinhança, ensaios da banda, novenas, festas); dos tempos e eventos rituais<br />

significativos (festas do Divino, pesca da tainha, eleições); das agressões performáticas<br />

(jocosida<strong>de</strong> verbal, rivalida<strong>de</strong> entre grupos); dos mecanismos <strong>de</strong> troca e quitação <strong>de</strong><br />

dádivas/dívidas (votos, favores, ajudas); das relações “clientelistas” e do significado das<br />

promessas; e, finalmente, das próprias falas nativas sobre o “outro”, seja o “camarada”, o<br />

político, o morador <strong>de</strong> fora ou o próprio santo – remete-nos a certas formas básicas <strong>de</strong><br />

interação social, todas embebidas umas nas outras, <strong>de</strong> modo que não se po<strong>de</strong> separa-las a não<br />

ser analiticamente. Estas formas básicas traduzem relações explicitas <strong>de</strong> jocosida<strong>de</strong>,<br />

rivalida<strong>de</strong>, cooperação, hierarquia e troca <strong>de</strong> dádivas, dívidas e promessas. Tais são os<br />

núcleos constitutivos da sociabilida<strong>de</strong> entre os açoriano-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes da Ilha <strong>de</strong> <strong>Santa</strong><br />

<strong>Catarina</strong>.<br />

Investigando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> traduzir a sociabilida<strong>de</strong> do ilhéu nos termos da lógica<br />

da reciprocida<strong>de</strong> e da obrigação <strong>de</strong> dar, receber e retribuir, reuni todo o material<br />

anteriormente <strong>de</strong>scrito sob as chaves da jocosida<strong>de</strong> e do dom, para discutir a atualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stes dois temas <strong>de</strong>ntro da historia da nossa disciplina. Registrei a trajetória <strong>de</strong>stes dois<br />

campos na literatura, mostrando como eles, inaugurados respectivamente por Radcliffe-

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