O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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De início, há uma diferenciação conceitual que precisa ser feita. A socialida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />
ser <strong>de</strong>finida como a qualida<strong>de</strong> do que é social; já a sociabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como a<br />
qualida<strong>de</strong> do que é sociável. Esta última seria englobada pela primeira, que representaria a<br />
investigação das qualida<strong>de</strong>s formais da interação social lato sensu, as “formas puras” como<br />
diria Simmel. Já a sociabilida<strong>de</strong> diz respeito ao conhecimento daqueles modos socialmente<br />
aceitos pelos nativos, portanto reconhecidos como formas usuais <strong>de</strong> linguagem para suas<br />
relações cotidianas, ou talvez como códigos regulares para toda forma <strong>de</strong> interação social com<br />
o outro. A sociabilida<strong>de</strong> seria então como uma malha <strong>de</strong> relações, em que normas, regras e<br />
códigos regulam a convivência <strong>de</strong> indivíduos e grupos, a ocupação <strong>de</strong> espaços, as formas<br />
associativas, o estar em nós etc. 3<br />
Pois bem, o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> fazer esse tipo <strong>de</strong> etnografia estaria assentado em quais bases<br />
teóricas? Como atingir, neste projeto, um nível <strong>de</strong>sejável <strong>de</strong> plausibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scritiva e<br />
rentabilida<strong>de</strong> analítica? A inspiração partiu <strong>de</strong> leituras da obra do filósofo alemão Georg<br />
Simmel [1858-1918] e prosseguiu pela análise antropológica <strong>de</strong> rituais, <strong>de</strong>senvolvida durante<br />
o século XX. Encontrei nesses domínios os elementos teóricos <strong>de</strong> enquadramento para<br />
realizar uma etnografia das formas locais <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, através da observação e análise <strong>de</strong><br />
eventos rituais significativos. É o que apresento a seguir.<br />
4.1.1 - Georg Simmel, inspirador da Antropologia<br />
Em 1908, Georg Simmel introduz na Sociologia o termo Vergesellschaftung, que quer<br />
significar o social como um “permanente vir-a-ser, processo sempre in fieri, que está<br />
autora explora a noção simmeliana do segredo e mostra como ela, assim como a mentira, constituem entre os<br />
pescadores, antes do que atos conscientes <strong>de</strong> distorção <strong>de</strong> informações, formas circulares <strong>de</strong> discurso que<br />
revelam as faces do jogo social entre ocultação e revelação. Mais: a autora mostra como ocultação e revelação,<br />
hierarquia e igualda<strong>de</strong>, competição e cooperação se cruzam na constituição da pesca como forma social no<br />
sentido <strong>de</strong> Simmel.<br />
3 Sobre a distinção entre socialida<strong>de</strong> e sociabilida<strong>de</strong>, noções usualmente amalgamadas, ver especialmente<br />
Viveiros <strong>de</strong> Castro (2000) e Strathern (1999a; 1999b).