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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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ato das promessas. De que maneira é possível ao político, ao patrão ou a qualquer doador <strong>de</strong><br />

favores retribuir a dádiva oferecida pelo donatário? Cumprindo com a promessa. Sabemos que<br />

os santos são mais fiéis pagadores do que os políticos, no entanto a operação <strong>de</strong> sentido aqui,<br />

embora invertida, é a mesma e se dá por meio do ato <strong>de</strong> sentido que a promessa confere. O<br />

povo é <strong>de</strong>voto-cliente do santo e vai se encontrar com ele nas festas para ajustar as contas. O<br />

povo é cliente-<strong>de</strong>voto do político, mas é capaz <strong>de</strong> troca-lo se este não retribuir sua <strong>de</strong>voção.<br />

A prática <strong>de</strong> o ilhéu xingar o seu santo, mostra, similarmente, esta possibilida<strong>de</strong> do credor<br />

das graças “dispensar”, mesmo que temporariamente o seu santo. É este o jogo das relações<br />

“clientelistas” que vimos entre os nativos da Ilha <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>. O ato <strong>de</strong> fazer e pagar<br />

promessas constituiria, ele mesmo, a dádiva e a intenção que reveste o “fundamento sagrado<br />

da socieda<strong>de</strong>” <strong>de</strong> que fala Lanna. A promessa registraria o sentido das “relações clientelistas”<br />

entre o fiel pagador e seu santo, assim como entre o fiel cliente e seu credor. Do ato <strong>de</strong> sentido<br />

conferido às promessas, resultaria a eficácia simbólica <strong>de</strong> sua operação.<br />

*<br />

Questionava no inicio <strong>de</strong>sta conclusão o que seria a açorianida<strong>de</strong>. A resposta que<br />

encontrei não foi uniforme e nem po<strong>de</strong> ser substantivada, a não ser pelos contextos concretos<br />

que esta pesquisa se propôs a fazer. No contexto global, a açorianida<strong>de</strong> foi i<strong>de</strong>ntificada como<br />

peça eficaz das retóricas políticas oficiais, na base <strong>de</strong> um discurso <strong>de</strong> valorização das raízes<br />

açorianas e <strong>de</strong> incorporação do patrimônio da migração, representado pelas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

imigrantes e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Por sua vez, as narrativas dos emissários organizados <strong>de</strong>stas<br />

comunida<strong>de</strong>s reforçaram este discurso em espaços e conteúdos específicos, mas apelando para<br />

um sentido afetivo <strong>de</strong> pertencimento a uma comunida<strong>de</strong> imaginada <strong>de</strong> diásporas. No contexto<br />

local, a açorianida<strong>de</strong> foi i<strong>de</strong>ntificada pelo nome da “cultura açoriana”, esta significando um

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