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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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quinhões <strong>de</strong> terra. A perspectiva <strong>de</strong> uma colonização planejada pela Metrópole, com<br />

distribuição eqüitativa <strong>de</strong> terras e bens, nunca se cumpriu. O resultado foi a formação <strong>de</strong> uma<br />

diferenciação social interna em que grupos <strong>de</strong> prestígio, portadores <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> nobreza,<br />

acabaram privilegiados na distribuição das terras, seja na extensão ou na localização. Segundo<br />

Beck (1984: 20), esta diferenciação fez surgir logo em poucos anos as "`pessoas notáveis`, os<br />

`benfeitores´, os compadres, os usurários, os alfabetizados e os festeiros que, no século XIX,<br />

serão os donos <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, donos <strong>de</strong> engenho, comerciantes e donos <strong>de</strong> barco”. Aqueles que<br />

receberam pequenos lotes <strong>de</strong>dicaram-se à agricultura <strong>de</strong> subsistência até a primeira meta<strong>de</strong> do<br />

século XIX, tendo na pesca uma ativida<strong>de</strong> subsidiária. Encontraram terras arenosas resistentes<br />

ao manejo <strong>de</strong> safras anuais, bem como terras alagadiças que acabaram sendo preservadas <strong>de</strong><br />

uso por ausência <strong>de</strong> lavouras adaptáveis como o arroz. Abandonaram o cultivo <strong>de</strong> cereais como<br />

o trigo e o centeio a que se acostumaram nos Açores, mas aperfeiçoaram o processamento da<br />

mandioca nativa, com a introdução <strong>de</strong> técnicas moageiras . Com os engenhos, fabricavam<br />

farinha, melado, açúcar mascavo e cachaça. Não abandonaram o linho mas apren<strong>de</strong>ram a fiar o<br />

algodão, a fibra nativa disponível. Dedicaram-se basicamente à pequena produção agrícola,<br />

plantando mandioca, milho, cana <strong>de</strong> açúcar, feijão, café e algodão. A profusão <strong>de</strong> espécies<br />

frutíferas na Ilha, aliada à ausência <strong>de</strong> mercado e mesmo tecnologias apropriadas para o seu<br />

beneficiamento, propiciou o uso aleatório das plantas mais a<strong>de</strong>quado a uma economia <strong>de</strong> pura<br />

coleta (LAGO, 1988).<br />

A partir da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, com a inserção na economia monetizada e<br />

o contínuo empobrecimento do solo, após 200 anos <strong>de</strong> plantio, a pesca <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma<br />

ativida<strong>de</strong> acessória. Já no início, o ciclo da baleia (1746-1801) havia impulsionado os<br />

açorianos para o mar. Introduziram técnicas <strong>de</strong> salgamento e <strong>de</strong>fumação do pescado, típicas

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