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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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progressivo e bem sucedido processo <strong>de</strong> afirmação i<strong>de</strong>ntitária, <strong>de</strong>marcação simbólica <strong>de</strong> um<br />

território e reelaborações culturais das tradições.<br />

*<br />

Havia projetado um quinto capitulo sobre os caminhos e <strong>de</strong>scaminhos do conceito <strong>de</strong><br />

cultura, justamente num tempo que este conceito parece ter se vulgarizado e seu valor<br />

explicativo diluído (STRATHERN, 1999b). Motivado por um certo <strong>de</strong>sengano com a idéia <strong>de</strong><br />

cultura, querendo ataca-la como exemplo da permanência <strong>de</strong> uma categoria essencialista,<br />

i<strong>de</strong>almente funcional, organicamente integra e auto-contida, fui abandonando a idéia, não<br />

porque fosse algo irrelevante mas porque, aos poucos, fui sendo interpelado pelos dados<br />

etnográficos <strong>de</strong>sta pesquisa. Eles me pareceram indicar um movimento contrário ao meu<br />

movimento intelectual. Desta maneira, ao ver a diáspora açoriana gerando continuas e<br />

imaginadas evocações culturais da sua homeland e aqueles entrepreneurs da cultura açoriana<br />

em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong> gerando discursos <strong>de</strong> origem, raiz, alma e tradição, afastei<br />

temporariamente, o projeto. Talvez tivesse sido capturado pelo “pessimismo sentimental” <strong>de</strong><br />

que fala Sahlins (1997: 51), um pessimismo que, segundo ele, varre o mercado anglófono,<br />

on<strong>de</strong> o termo cultura parece estar em franca liquidação (op. cit.: p. 65, nota 2). Neste texto,<br />

uma espécie <strong>de</strong> combate ilustrado ao <strong>de</strong>salento pós-mo<strong>de</strong>rno, Sahlins (p.50-53) vai mostrando<br />

inúmeros exemplos <strong>de</strong> “florescimento” ou “intensificação” cultural em que novas formas <strong>de</strong><br />

vida translocais e neotradicionais reinventam seu próprio passado, subvertendo seu próprio<br />

exotismo. Tais culturas estão, no dizer <strong>de</strong> Bruno Latour (1996:5 apud SAHLINS, op. cit: 52):<br />

(...) transformando a antropologia em algo favorável a elas, ‘reantropologizando’, se<br />

me permitem o termo, regiões inteiras da Terra que se pensava fadadas à<br />

homogeneida<strong>de</strong> monótona <strong>de</strong> um mercado global e <strong>de</strong> um capitalismo<br />

<strong>de</strong>sterriorializado (...) Essas culturas, tomadas <strong>de</strong> um novo ímpeto, são fortes

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