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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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CAPITULO 2 – DE “PRAIANO INDOLENTE” A “AÇORIANO-<br />

DESCENDENTE”: A EMERGÊNCIA DA “CULTURA AÇORIANA” EM<br />

SANTA CATARINA (1940-1990).<br />

2.1 - NOTA PRELIMINAR<br />

A expressão “cultura açoriana” indica hoje um modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>signação, corrente na<br />

opinião pública <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, para tudo o que se refere à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, às tradições,<br />

memória oral e escrita, herança cultural, ao estilo <strong>de</strong> ser, as festas e manifestações folclóricas<br />

das populações <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> açorianos que habitam as regiões litorâneas do Estado. Devo<br />

dizer que o título <strong>de</strong>ste capítulo foi inspirado na freqüente colocação <strong>de</strong> movimentos afrobrasileiros<br />

que avaliam sua trajetória a partir do percurso: <strong>de</strong> “pretos a afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes” 1 .<br />

A imagem do <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> açoriano como “praiano indolente” é engendrada a<br />

partir da mo<strong>de</strong>rnização sanitária da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Florianópolis nos anos 20 do século XX,<br />

quando se verifica a generalização <strong>de</strong> um forte discurso higienista contra os modos <strong>de</strong> conduta<br />

da população (ARAÚJO, 1989; 1999; GERBER, 1998). Em paralelo, tal imagem era<br />

registrada nos discursos eclesiais, no contexto do processo <strong>de</strong> romanização da Igreja neste<br />

período, contra as resistências oferecidas pelo povo praticante do catolicismo popular <strong>de</strong><br />

origem luso-brasileira (SERPA, 1997). Depois, em meados do século XX, esta imagem foi<br />

refutada, em nome da brasilida<strong>de</strong>, com a emergência <strong>de</strong> um discurso culturalista e<br />

assimilacionista, no bojo das frentes nacionalistas contra o chamado “perigo alemão”<br />

(FLORES, 1997). Recentemente, uma segunda onda mo<strong>de</strong>rnizadora, nos anos 70 e 80,<br />

calcada no <strong>de</strong>senvolvimento do turismo, balnearização das localida<strong>de</strong>s e na chegada <strong>de</strong><br />

1 Cf. os sites da “Revista Negra Afirma Online” http://www.afirma.inf.br; e, do II Congresso Brasileiro <strong>de</strong><br />

Pesquisadores Negros, ocorrido <strong>de</strong> 26 a 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Carlos no Estado <strong>de</strong> São Paulo:<br />

http://www.ufscar.br/~cbpn/. Um estudo comparado do caso açoriano com o afro em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, na

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