30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

85<br />

fluxos <strong>de</strong> novos moradores das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s brasileiras, colocou em evi<strong>de</strong>ncia a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um esforço integrado para preservar a “cultura açoriana”. Entre intelectuais e<br />

li<strong>de</strong>ranças açorianistas locais, tornava-se urgente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “resgatar” as “tradições” e<br />

as origens culturais das populações litorâneas, antes que elas <strong>de</strong>saparecessem. 2 A partir do<br />

início dos anos 1990, começa a ganhar corpo no Estado um movimento cultural<br />

institucionalmente organizado e em parceria com órgãos governamentais do Arquipélago dos<br />

Açores. Pedagogicamente aplicado em todo o litoral <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, este movimento<br />

consolida a imagem do “açoriano-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte”, bem como <strong>de</strong> suas fronteiras <strong>de</strong>ntro do<br />

chamado “mosaico étnico catarinense”. O mosaico é uma imagem politicamente correta das<br />

etnias formadoras do Estado. Promove, em ultima instância, um efeito <strong>de</strong> fixação das<br />

diferenças em paisagens regionais permanentes (GARCIA JR., 2002; Jornal DC., 1.01.2001).<br />

Com efeito, os antagonismos étnicos historicamente existentes na região, sofrem uma<br />

tentativa <strong>de</strong> apagamento, ficando como que subsumidos na paisagem. É o caso por exemplo<br />

entre “caboclos” e ítalo-brasileiros do Planalto Catarinense, estudados por Bloemer (2000).<br />

O caso açoriano em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong> parece inserir-se na rubrica geral dos fenômenos <strong>de</strong><br />

“invenção da tradição” (HOBSBAWN & RANGER, 1984: 9). Uma tradição inventada é,<br />

segundo os autores “um conjunto <strong>de</strong> práticas, normalmente reguladas por regras, tácita ou<br />

abertamente aceitas; tais práticas, <strong>de</strong> natureza ritual ou simbólica, visam a inculcar certos<br />

valores e normas através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuida<strong>de</strong> em<br />

relação ao passado”. Com a ênfase crescente dos estudos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, revigorados sob o<br />

impacto da globalização, as “tradições inventadas” tornaram-se como que o mote explicativo<br />

para a proliferação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s múltiplas e heterogêneas, relativizando o fenômeno étnico<br />

(OLIVEIRA. 1999:8). Cabe aqui, todavia, uma observação crítica: tornou-se lugar comum<br />

perspectiva das emergências étnicas tornaria mais rico este capítulo, todavia este é um projeto <strong>de</strong>dicado a uma<br />

futura pesquisa.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!