O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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vulcanismo, telurismo e, paradoxalmente pelo sentimento de evasão e amplidão (ROSA &
TRIGO, 1990).
A idéia da açorianidade vai significar, ao longo do século XX, um esforço sistemático
e permanente de intelectuais e organizações açorianas para fixar - primeiramente no espaço
nacional português e, contemporaneamente, nas comunidades transnacionais de imigrantes e
descendentes - um espaço da diferença constitutivo da identidade cultural regional das
populações do Arquipélago. Este esforço teve origem em fins do século XIX no bojo das
tensões políticas e movimentos autonomistas da região em relação ao poder central em Lisboa
(CORDEIRO, 1998). Aparecendo como um discurso de tipo culturalista, justificador da
singularidade da “alma açoriana”, a açorianidade vai caracterizar a região como uma
comunidade de descendência com costumes e maneiras de ser próprios. Conforme Leal (1997:
10) este discurso é construído por inúmeros autores ao longo do século XX, a partir de uma
“etnografia espontânea: um conjunto de asserções de forte orientação etnocultural em que
conceitos e idéias sobre povo, raízes e cultura ocupam um lugar relevante, como argumento
decisivo para afirmar a unidade e a diferença dos Açores”. Ainda conforme Leal , o projeto
de construção da açorianidade tem forte similaridade com o que Smith (1991), classificou por
modelo“etnogenealógico” de construção da nação 9 , como por exemplo a idéia de que o
açoriano seria “um português dos Quatrocentos”. Ao lado do modelo etnogenealógico, a
açorianidade seria definida por uma “psicológica étnica” (LEAL, op. cit: 11), pela existência
de uma personalidade moral e um perfil de “temperamento indolente”, o “sentimento de
evasão” do ilhéu etc. Tais classificações seriam justificadas em grande medida por influencias
9 O estudo de Smith distingue o modelo etno-genealógico de nação do modelo cívico-territorial da nação.
Enquanto que neste último a nação é vista essencialmente como uma comunidade baseada em critérios de
pertença como o território ou o direito, no primeiro caso o acento é posto em critérios de natureza etnocultural
em que a descendência comum e a existência de uma cultura vernacular própria ocupam um lugar determinante.
Esta distinção retoma distinções de sentido similar recorrentes em diversos autores que têm escrito sobre
nacionalismo.