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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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quebrando a relação dual entre comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> minorias e socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> maiorias. Permitiria<br />

coalizões entre grupos étnicos diferentes, (Clifford cita o caso da diáspora Maghrebi, que<br />

reúne marroquinos, algerianos e tunisianos na França). Além disso, a noção <strong>de</strong> diáspora,<br />

mediaria experiências <strong>de</strong> separação e enredamento, refletindo o sentido <strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong> uma<br />

re<strong>de</strong> transnacional “that inclu<strong>de</strong>s the homeland not as something simply left behind but as a<br />

place of attachment in a contrapuntual mo<strong>de</strong>rnity ”(p.256) 2 .<br />

Por fim, diria que estudos e pesquisas que assumem a perspectiva da globalização<br />

sobre imigrantes, refugiados, grupos nôma<strong>de</strong>s e diásporas, têm questionado a idéia <strong>de</strong> que<br />

uma cultura supõe necessariamente um lugar (no sentido etnográfico e também teórico), um<br />

espaço local com fronteiras <strong>de</strong>limitadas e indivíduos naturalmente enraizados (HASTRUP &<br />

OLWIG, op. cit; ERIKSEN, 1997; CLIFFORD, op. cit.). Para tais autores, é preciso superar a<br />

visão do mundo como mosaico <strong>de</strong> únicas e distintas culturas, visão esta resultante da<br />

influência do paradigma nacionalista – constituído a partir do processo do nation-building -<br />

que marcou o <strong>de</strong>senvolvimento da antropologia no Oci<strong>de</strong>nte. De fato, num mundo <strong>de</strong><br />

“incrível conectivida<strong>de</strong> mas também não homogêneo” (CLIFFORD, op. cit.: 2), os processos<br />

‘impuros’ <strong>de</strong> invenção coletiva, táticas <strong>de</strong>sterritorializadas <strong>de</strong> tradução, formas translocais <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação e imaginação étnicas têm comprometido a produtivida<strong>de</strong> analítica <strong>de</strong> categorias<br />

como cultura e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> quando estas não incorporam os estados <strong>de</strong> impermanência, os<br />

fluxos e alterida<strong>de</strong>s taticamente negociadas em meio a forças <strong>de</strong> natureza global.<br />

Essas observações preliminares estimulam a sua aplicação à experiência histórica da<br />

migração açoriana. Meu propósito é examinar possibilida<strong>de</strong>s pouco exploradas no campo da<br />

antropologia, como por exemplo, a configuração <strong>de</strong> uma cultura diaspórica açoriana global<br />

2 A idéia <strong>de</strong> ‘mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> contrapontual’ (emprestada da música) é usada por Said (1984) para refletir os<br />

aspectos positivos do exílio. Para um exilado, estilos <strong>de</strong> vida e memórias agem contrapontualmente, ligados a<br />

ambientes diferentes que se contrapõem. Clifford acrescenta que, à diferença do foco individualista do exilado, a<br />

experiência diaspórica teria seu foco temperado por re<strong>de</strong>s e praticas coletivas <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento e moradia. ( op.<br />

cit. p.365).

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