30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

37<br />

seu lugar num mundo crescentemente organizado em torno daquilo que Appadurai (op. cit.:<br />

33) <strong>de</strong>signou como “ethnoscapes”. Conceitos como os <strong>de</strong> “creative ethnicity” (STERN &<br />

CICALA, 1991) ou “politics of ethnic consciousness” (GOVERS & VERMEULEN, 1997)<br />

têm-se revelado particularmente úteis nesta aproximação da etnicida<strong>de</strong> como um processo<br />

complexo <strong>de</strong> negociação política e cultural <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s coletivas.<br />

Em um texto recente, Clifford (1997:244-277) , fazendo eco às crescentes discussões<br />

sobre as relações entre globalização, migrações e etnicida<strong>de</strong> transnacional, procura dar um<br />

status <strong>de</strong> instrumento analítico à noção <strong>de</strong> diáspora. Buscando afastar a idéia que a diáspora<br />

judaica seria um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>finitivo, o autor refere-se à noção como algo que remete àquelas<br />

situações em que o indivíduo elabora sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal com base no sentimento <strong>de</strong> estar<br />

dividido entre duas lealda<strong>de</strong>s contraditórias: a <strong>de</strong> sua terra <strong>de</strong> origem (“home”) e o lugar (ou<br />

lugares) on<strong>de</strong> constrói sua vida e inserção social (“location”). Mas, indo além <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>finição meramente tipológica das diásporas mundiais, como em Safran (1991) e Cohen<br />

(1997), Clifford (op. cit. 250) sugere uma análise diacrítica do campo discursivo da diáspora.<br />

Para ele, é necessário construir o conceito <strong>de</strong> diáspora pelas suas fronteiras, analisando como<br />

e contra o que se <strong>de</strong>finem e quais fronteiras ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>slocar. Desta forma, as diásporas<br />

<strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> ser vistas como epifenômenos dos “estados-nação”, passando a servir, por<br />

exemplo, como um questionamento à idéia corrente <strong>de</strong> que a experiência migratória (ou<br />

qualquer experiência <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento e dispersão), necessariamente conecta as pessoas à<br />

uma “homeland” real ou simbólica. Para o autor, a experiência diaspórica, ao revés, ressalta a<br />

habilida<strong>de</strong> dos grupos em recriar sua cultura em diversos locais . Nesse caso, a diáspora seria<br />

um discurso híbrido que viaja, um fenômeno que encoraja “multilocale attachments, dwelling<br />

and traveling within and across nations “(p.249). O discurso e a experiência diaspóricas<br />

contemplariam um sentido <strong>de</strong> diferença mais diversificado para os atores sociais envolvidos,<br />

nações inclusivos) tiveram um interesse e <strong>de</strong>senvolvimento maior nas antropologias periféricas do que nas<br />

centrais (on<strong>de</strong>, sim, eram quase isoladas na época).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!