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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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os ciclos lunares e das marés vão incidir sobre uma série <strong>de</strong> crenças e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> época,<br />

como culinárias festivas especiais (comidas joaninas), remédios caseiros (cujas plantas só<br />

po<strong>de</strong>m ser colhidas em <strong>de</strong>terminada época do ano) e relações sentimentais e pedidos <strong>de</strong><br />

presentes (circulação do Pão por Deus na primavera). Em outras palavras, o relógio da<br />

natureza (clima, tempo, vento, lua, sol) vai indicar o que fazer no trabalho: semear, colher,<br />

beneficiar, caçar, tecer, trocar, ven<strong>de</strong>r, enquanto as “festas” ou “folgas”, ao cancelar<br />

temporariamente o “tempo <strong>de</strong> trabalho”, vão promover as “épocas” dos inúmeros “ritos <strong>de</strong><br />

calendário” locais como o “boi <strong>de</strong> mamão”, os “ternos <strong>de</strong> reis”, as “farras do boi”, as “festas<br />

do Divino”, “São João”, dos santos-padroeiros etc. Moacir Palmeira (2001), estudando o<br />

“tempo da política” entre populações camponesas do nor<strong>de</strong>ste brasileiro, vai i<strong>de</strong>ntificar uma<br />

sociologia nativa em que a or<strong>de</strong>m social não é dividida em termos orgânicos ou mecânicos,<br />

em “esferas” ou ”domínios”, algo comum em nossas formas acadêmicas <strong>de</strong> senso comum. A<br />

socieda<strong>de</strong> é dividida (eu diria, percebida) em tempos socialmente relevantes (da política, da<br />

festa, do padroeiro, da safra, da Quaresma etc ) que contaminam, englobam as outras<br />

ativida<strong>de</strong>s socialmente relevantes naquele momento (e aí, tudo vira política, tudo vira festa). A<br />

questão não parece ser regional, pois associações semelhantes foram encontradas no Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul (ibid.: 172), tratando-se do mesmo caso entre as populações nativas da ilha <strong>de</strong><br />

<strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>.<br />

Registradas em ampla literatura etnográfica que tem <strong>de</strong>stacado o caráter e o<br />

movimento <strong>de</strong> trocas intensas entre o “religioso e o não-religioso”, entre “brinca<strong>de</strong>iras e<br />

evitações”, “separações e comunhões”, o “mundo da casa e o da rua”, “hierarquias e<br />

mutualida<strong>de</strong>s”, “dádiva e mercadoria” (BRANDÃO, 1989; DaMATTA, 1979, 1985; LANNA,<br />

autor do Projeto <strong>Santa</strong>s Cruzes da Ilha <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, 1999.

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