O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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específicas ao longo do ano, não há um regime de festas, folguedos ou cerimônias
regionalmente significativo neste período que vai do fim de julho até o inicio de outubro.
3.3.5. – PRIMAVERA: “Pão por Deus, N. Sra. Aparecida e o “choro aos mortos”
Durante a primavera, com a floração dos ipês por toda a ilha e região, dá-se o sinal
para o início-retorno dos ciclos tradicionais de expressões populares. Atualmente este sinal tem
tom evocativo, memorial: era o tempo de circulação do Pão-por-Deus. Antiga forma de
comunicação sentimental, anônima e enviada por emissários neutros cujos prêmios eram
presentes, o Pão por Deus (fig.15) são espécies de bilhetes ou cartas em formato de coração
com mensagens de simpatia, amizade ou de amor em que se pede em verso 18 uma prenda ou
anuncia-se uma pretensão de namoro. Segundo um informante, o Pão por Deus “é uma
expressão de dádiva, pedido ou troca de amores, favores e gentilezas: - Lá vai meu coração
nas asas de um quero-quero//Vai pedir a Dona Bilica um bonito par de chinelo”.
O pedido é feito à pessoa, ao menos hipoteticamente, de maior poder e respeito: de
admiradora para admirado; de moça para senhora; de moradora de sítio para moradora de
cidade. Nos Açores, é costume infantil mas na Ilha de Santa Catarina é feito por pessoa de
qualquer idade. A temporada de circulação das mensagens termina no dia de Finados (2.11),
mas as devoluções das respostas podem se estender até 6 de janeiro. Hoje em dia há registros
apenas evocativos do Pão-por-Deus e os bilhetes rendilhados têm sido usados como
lembranças em eventos para dar boas vindas aos participantes. Desconheço alguma localidade
do litoral em que tais bilhetes circulem na forma aqui descrita.
18 Não apenas nos versos do Pão por Deus mas, a improvisação, os pasquins, quadras, desafios, os versos das
cantorias, exprimem o gosto e a habilidade do ilhéu pela métrica jocosa e parece ser uma herança da literatura
popular açoriana, cuja verve satírica, o escárnio, a ironia são conhecidas (FARIAS, 2000) .