O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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coadjuvante. Seguiu então, acompanhando o cortejo até o interior da igreja, quando se deu a
missa da coroação.
Tudo se movia com lentidão, quebrada apenas pelos fogos de artifício. As pessoas
saíam às ruas para ver o cortejo passar. Na
entrada, mais uma saraivada da fogos. Todos
entraram, lotando a igreja, menos a banda,
que aguardaria sua apresentação depois da
missa. A missa longa foi festiva e terminou
com a ida do cortejo até ao Império, uma
pequena construção situada ao lado da igreja.
Fig. 5: Rei e Rainha no Império, Ribeirão da Ilha, 2001.
Ali, o rei e a rainha (fig. 5), ficariam expostos por muito tempo, sentados no trono, para fotos
e cumprimentos 22 .
No Império, ficavam também as massas antropomórficas, mandadas fazer pelos
pagadores de promessas. As massas desenham partes do corpo daquele que alcançou a graça
da cura. Foram arrematadas em leilão no fim da festa, em benefício das obras sociais da
Igreja. Essas massas antropomórficas serão comidas pelos fiéis, após a arrematação. Acredito
tratar-se de uma forma de canibalismo da doença – representada pela “massa” como ex-voto –
algo que não parece ter paralelo no Brasil. Em estudos futuros, importa reter que as massas
constituem o meio mais evidente e publicamente pronunciado de que o devoto pagou a sua
promessa:
Altamiro – Às vezes tem um doente. Então eu digo: “Se meu filho ficar bom eu dou um
braço.” No dia da festa, tem lá uma massa, um desenho de uma perna, uma cabeça. No dia da
Festa do Espírito Santo essa cozinha aqui estava cheia de massa pra arrematar: Era um braço,
uma perna, uma mão, um pescoço, sei lá, um corpo inteiro, um boneco de massa de pão. Essa
22 O casal festeiro é também chamado “casal imperial”. No entanto, o casal de jovens, simbolizando o rei Dom
Diniz e a rainha Santa Izabel, é que será coroado na missa, como imperador e imperatriz. Não descobri qual é o
sentido desta distinção.