30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

93<br />

Praticada nos matos, sertões e praias, tornou-se visível nas novas malhas urbanas, provocando<br />

mobilizações e protestos que permanecem até hoje em todo os País. 13<br />

O trecho <strong>de</strong>sta<br />

entrevista abaixo é emblemático <strong>de</strong> todo este processo referido nestes dois últimos<br />

parágrafos. É o relato <strong>de</strong> um lí<strong>de</strong>r comunitário, farrista, pescador, nativo <strong>de</strong> uma localida<strong>de</strong><br />

pesqueira do sul da Ilha:<br />

E -Fala-se muito hoje em cultura açoriana, a <strong>de</strong>scoberta das origens etc. Eu queria saber <strong>de</strong> ti,<br />

na tua infância, teus pais ou o pessoal mais velho comentavam sobre isso?<br />

Jair – Não, não. Não existia não. Nós não sabia da on<strong>de</strong> tinha vindo. Até é engraçado porque<br />

o pessoal italiano, os alemão eles sabem sua origem. – Sou <strong>de</strong> origem italiana, sou <strong>de</strong> origem<br />

alemã. Eles tinham essa noção. Talvez mesmo pela própria colonização <strong>de</strong>les ser mais<br />

recente, no caso. Mas nós não. Nós não tínhamos essa noção, disso não. Nós achávamos que<br />

éramos daqui mesmo. [sublinhado meu]<br />

No início do texto, referimo-nos à questão da “naturalização” do litoral, visibilizado<br />

como “rota da natureza”. Neste relato, note que o ser “daqui mesmo” significava ser um<br />

natural da terra, alguém que “não sabia da on<strong>de</strong> tinha vindo”, indicando como a<br />

“naturalização” do território repercutia na fala nativa sobre sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem:<br />

E – Brasileiro?.<br />

Jair – É, brasileiro. Nós não tínhamos essa noção não, <strong>de</strong> dizer: - Nós somos <strong>de</strong> colonização<br />

açoriana. Algumas pessoas nessa época, hoje eu sei que nessa época já trabalhavam, já<br />

tentavam estudar isso, hoje eu sei disso, mas era uma coisa que era muito fechado, ou pelo<br />

menos não era divulgado né. Não era divulgado nada do trabalho <strong>de</strong>sse pessoal que se<br />

esforçava em querer mostrar esse lado da colonização açoriana, não. Isso aí na verda<strong>de</strong> nós<br />

fomos <strong>de</strong>scobrir mesmo, através, quando nós fomos pra universida<strong>de</strong>, quando esse trabalho<br />

que fez, que tem a universida<strong>de</strong> aqui <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, com a dos Açores, que tem esse<br />

trabalho aí <strong>de</strong> integração, <strong>de</strong> estudos, e que foi se aprofundando muito mais né, trazendo gente<br />

<strong>de</strong> lá, levando gente daqui pra lá, enfim, a gente soube <strong>de</strong>ssa importância que é também a<br />

cultura açoriana.<br />

Indagado sobre como foram <strong>de</strong>scobrir suas origens, o informante revela que quando<br />

tiveram que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua tradição (a da farra do boi), <strong>de</strong>scobriram que também eram um<br />

povo que tinha “origem”:<br />

12 Veja as seguintes matérias no Jornal Diário Catarinense: “Um momento singular”, 23.03.2001, p. 12; “Uma<br />

ilha <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s e expectativas”, 27.01.2002, p. 22; “Morar na ilha é sonho para poucos”, 25.08.2002, p. 18.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!