O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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da Ilha 3 . Estes ritos <strong>de</strong>marcam os espaços nativos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> em eventos como festas e<br />
celebrações, cortejos e procissões, rezas, folias e libações. Rituais, enquanto eventos críticos ou<br />
eventos comunicacionais <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> (ver cap. 4), são bons para pensar formas básicas<br />
<strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, na medida em que os atores vivem, nos acontecimentos rituais, a experiência<br />
<strong>de</strong> seus modos básicos <strong>de</strong> interação, modos tais socialmente significativos e reconhecidos pelo<br />
grupo envolvente. Dessa forma, procurei participar, no campo, daquelas situações que<br />
revelam-se como fulcros básicos das interações sociais nativas: cerimônias, festejos e<br />
procissões religiosas, festas <strong>de</strong> evocação, folias, reuniões <strong>de</strong> família, ensaios, encenações,<br />
comemorações, conversações espontâneas, situações <strong>de</strong> vizinhança, mobilizações para o<br />
trabalho comunitário, atos <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, performances verbais, situações emblemáticas <strong>de</strong><br />
fornecimento e pagamento <strong>de</strong> dívidas <strong>de</strong> favor e obrigação, pagamento <strong>de</strong> promessas,<br />
“ajutórios” 4 , “peditórios” 5 , convites, presentes, fofocas etc.<br />
Ao rememorarem coletivamente tempos (ou épocas) <strong>de</strong> tradição<br />
(ROCHA &<br />
ECKERT, 2000), estas festas e ritos têm representado, mais recentemente, uma forma <strong>de</strong><br />
afirmação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local, reconstituindo formas <strong>de</strong> vida comunitária no contexto <strong>de</strong> uma<br />
região on<strong>de</strong> a população aumenta e se diversifica vertiginosamente. Nas consi<strong>de</strong>rações finais,<br />
reforço as propostas dos pesquisadores latinoamericanos da área da Folkcomunicação”<br />
(MARQUES <strong>de</strong> MELO,1999), uma área <strong>de</strong> pesquisa que reúne interessados nas relações entre<br />
comunicação e cultura popular. Com eles, proponho o estudar festas e ritos populares ilhéus<br />
enquanto “eventos comunicativos”.<br />
3 As principais localida<strong>de</strong>s pesquisadas foram: Freguesia do Ribeirão da Ilha; Freguesia <strong>de</strong> Santo Antonio e N.<br />
Sra. das Necessida<strong>de</strong>s; Freguesia da Lagoa da Conceição; Pântano do Sul, Saco Gran<strong>de</strong> e Rio Tavares.<br />
4 Designa qualquer pedido feito em nome <strong>de</strong> um grupo ou toda a comunida<strong>de</strong> para ajudar alguém ou promover<br />
algo em prol da comunida<strong>de</strong>. Representa um esforço coletivo qualquer ou uma “ajuda” fornecida por vários a<br />
alguém necessitado.<br />
5 Caracteriza o trabalho dos foliões que saem as ruas com a Ban<strong>de</strong>ira do Divino a pedir prendas para a Festa.