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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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O “cortejo e <strong>de</strong>sfile etnográfico” é um dos pontos altos da festa <strong>de</strong> Fall River. Trata-se<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfile longo (duas milhas em quatro horas) em que as centenas <strong>de</strong> bandas, irmanda<strong>de</strong>s,<br />

misturadas às associações, clubes, empresas, autorida<strong>de</strong>s e carros alegóricos, constituem uma<br />

“para<strong>de</strong>”, no melhor estilo da vida pública americana. Sabemos que as “para<strong>de</strong>s”, tendo<br />

origem nas marchas militares solenes, transformaram-se nos Estados Unidos em ritos cívicos<br />

extraordinários, vindo a constituir aquilo que Ryan (1992: 196 ), chamou <strong>de</strong> “festivais<br />

étnicos”. Cidadãos comuns, colocados em linha <strong>de</strong> marcha, mostravam ao publico o<br />

vocabulário social <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s profissionais, <strong>de</strong> classe, étnicas e <strong>de</strong> gênero. O papel da<br />

parada étnica é organizar as categorias sociais, <strong>de</strong> maneira disciplinada e segundo padrões<br />

audio-visuais agradáveis (op.cit.207). No cortejo açoriano, enquanto pessoas idosas<br />

alinhavam-se nas calçadas, cenas da vida rural dos Açores eram recriadas, ban<strong>de</strong>iras dos<br />

vários países confundiam-se com os estandartes da irmanda<strong>de</strong>s e assim tudo o que pu<strong>de</strong>sse<br />

evocar a memória da terra <strong>de</strong> origem inscrevia-se no <strong>de</strong>sfile.<br />

Segui registrando a festa e parti para algumas rápidas entrevistas, apresentando-me<br />

com um brasileiro que <strong>de</strong>sejava fazer uma matéria sobre os imigrantes açorianos. Esperava<br />

encontrar no evento um número pequeno <strong>de</strong> jovens (na faixa 15 e 25 anos) mas, para minha<br />

surpresa, havia uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, especialmente na composição das bandas musicais,<br />

enquanto os mais velhos participavam das irmanda<strong>de</strong>s. Dirigi-me a um grupo <strong>de</strong> jovens que<br />

<strong>de</strong>scansava na praça, <strong>de</strong>pois do longo cortejo. Cantavam músicas portuguesas, americanas e<br />

latino-americanas. Perguntei a um casal <strong>de</strong> namorados, o que achavam daquela festa. Na<br />

conversa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dizerem que haviam nascido ali, um <strong>de</strong>les respon<strong>de</strong>u, misturando as duas<br />

línguas: - “I, eu não sei, well, para mim é uma coisa bonita da nossa tradição e é bom ver que<br />

está a continuar com nossa tradição <strong>de</strong> Portugal e dos Açores”. Disseram que participam da<br />

festa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que entraram na banda em 1993. Perguntei sobre os Açores e eles disseram que<br />

acabaram <strong>de</strong> passar duas semanas lá, na ilha <strong>de</strong> São Miguel. Quis saber se era comum, se era

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