O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Um dos diretores mais antigos da banda relata a forma <strong>de</strong> recrutamento dos<br />
componentes, que é feita com a ajuda do padre:<br />
187<br />
Altamiro – Volta e meia a gente vai na missa aí, oferecer pros padre mandar as crianças pra<br />
apren<strong>de</strong>r. Aí funciona um pouquinho, sabe? Vem uma enchente <strong>de</strong> gente. Daqui a pouco,<br />
daqueles 20, 30, vai sumindo, porque acham que é só chegar e amanhã já tocam samba, né?<br />
Aí, quando a gente fala que música é uma espécie <strong>de</strong> matemática, aí corre todo mundo.<br />
A meta<strong>de</strong> corre.<br />
Quanto à sustentação financeira da banda, usa-se o mecanismo da troca <strong>de</strong><br />
apresentações gratuitas pela aquisição <strong>de</strong> novos sócios, pessoas que se comprometam a pagar<br />
uma mensalida<strong>de</strong> para, em troca, ter a banda tocando em certos eventos:<br />
Altamiro – Olha, nós temos um grupo <strong>de</strong> associados. Mas temos aqui na Costeira do Ribeirão<br />
uma turma que nos oferecemos para tocar. Dissemos assim: “Ó, vocês arranjem lá uns <strong>de</strong>z ou<br />
doze sócios, cada um pagando uns 10 reais. Arranjando uns 100 reais por mês, nós garantimos<br />
pra vocês duas apresentação lá, <strong>de</strong> festa. Vocês escolhem a festa e nós vamos lá tocar”. E isso<br />
tá funcionando lá. Eles pagam <strong>de</strong> 80 a 120, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do mês, mas tá dando uma média <strong>de</strong><br />
1500 por ano. Então eles garantem <strong>de</strong> 2 a 3 festas até, a gente vai. Tá garantida, tá pago. E lá<br />
eles dizem: “Olha, esta banda está sendo financiada por fulano, fulano...” Sócio da banda tem<br />
que ser sócio pra ajudar, não sei o quê, e em troca a banda tá se apresentando...<br />
Freguesia:<br />
No entanto, este mecanismo não funciona plenamente em apresentações fora da<br />
Altamiro – Tocar fora do Ribeirão, aí é tudo pago. Seja o que for que aparecer. Na Trinda<strong>de</strong>,<br />
teve uma moça que era sócia e, como teve a Festa do Espírito Santo na Trinda<strong>de</strong>, ela <strong>de</strong> lá...<br />
Parece que o filho <strong>de</strong>la ia se vestir naquela comissãozinha <strong>de</strong> imperadorzinho. Ela falou com<br />
o festeiro pra arranjar uns sócios e então a banda vinha tocar duas festas por ano, <strong>de</strong> graça.<br />
Fomos lá e até hoje não <strong>de</strong>ram um tostão. Então acontece isso. Mas na maioria das vezes, tem<br />
essa troca. Só que nós temos medo <strong>de</strong> confiar no pessoal que começa a pagar e <strong>de</strong>pois não<br />
pagam mais.<br />
Após um ano, senti que houve mudanças na banda. O maestro foi embora. Assumiu<br />
um novo maestro, morador dali mesmo, filho <strong>de</strong> um dos percussionistas da banda. Aquele<br />
antigo diretor que entrevistei não participou <strong>de</strong>sta vez, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitos anos. Estava um tanto<br />
magoado, mas ficou feliz e chorou quando a banda, ao passar com o cortejo do Divino, parou