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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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A abordagem das festas populares como cenários <strong>de</strong> trocas generalizadas, remete-nos<br />

ao fato <strong>de</strong> que elas também são “eventos comunicativos”, negociando significados e<br />

produzindo mensagens coletivas cujos conteúdos variam conforme a correlação das forças<br />

sociais que as produzem. Atualmente, as festas populares não são apenas geradas pelos grupos<br />

locais <strong>de</strong> vizinhanças, mas resultam da ação <strong>de</strong> diversos setores entre os quais a mídia,<br />

empresas e órgãos públicos. Tais setores alteraram profundamente a fisionomia das festas<br />

populares no Brasil e em toda a América Latina. Neste sentido, propus que as festas fossem<br />

tomadas como processos comunicacionais em que os diversos grupos sociais envolvidos<br />

disputam a hegemonia sobre elas nos termos da fixação das programações, atrações, regras,<br />

equipamentos, formas <strong>de</strong> celebração, motivos, divulgação e conteúdos específicos.<br />

A literatura antropológica clássica e contemporânea (MAUSS [1905]1974,<br />

DURKHEIM [1912]1968) & MAUSS [1903]1971), LEACH, 1974, TURNER 1974,<br />

APPADURAI,1996, RICOEUR, org.,1975), tem no estudo <strong>de</strong> como as socieda<strong>de</strong>s<br />

representam ritualmente seus tempos e espaços sociais, um dos seus acervos mais<br />

importantes. Sublinhei o argumento da pulsação dos tempos sociais, seu eterno retorno em<br />

ciclos, dizendo tratar-se <strong>de</strong> um princípio <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cosmológica que concebe uma<br />

temporalida<strong>de</strong> marcada por épocas <strong>de</strong> celebração da fertilida<strong>de</strong> (boas safras <strong>de</strong> peixe, farturas<br />

da terra) e celebração da dor (chorar os mortos, encenar a Paixão <strong>de</strong> Cristo); tempos<br />

marcados, ora pelo chamamento do santo (festas <strong>de</strong> padroeiro, do Divino), ora pela<br />

mobilização do trabalho (a “camaradagem” na pescaria da tainha), ou pela folgança e<br />

algazarra (folias <strong>de</strong> rua e <strong>de</strong> casa, cantorias, autos e pantomimas). Com Appadurai (1996: 178-<br />

199) sugeri que <strong>de</strong>vemos interpretar os ritos não como técnicas mecânicas <strong>de</strong> agregação<br />

social, mas como “técnicas sociais <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> nativos”, vistos como atores que<br />

socializam e localizam o tempo e o espaço no processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> si mesmos.

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