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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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do doador, mais visível seja o retorno pelo favor prestado. Assim, teríamos, em primeiro<br />

lugar, o parente consangüíneo, <strong>de</strong>pois o afim, <strong>de</strong>pois o cumpadre, <strong>de</strong>pois o amigo e, por fim, o<br />

terceiro incluído, um não-íntimo que foi mediado por algum dos anteriores.<br />

Tradicionalmente, o chefe político ou cabo eleitoral <strong>de</strong>tém um papel estratégico na<br />

intermediação entre as <strong>de</strong>mandas da comunida<strong>de</strong> e as fontes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que controlam os meios<br />

para suprir tais necessida<strong>de</strong>s. Esse papel vem per<strong>de</strong>ndo historicamente sua importância, na<br />

medida que cresce a oferta local dos serviços públicos e o voto <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um ato<br />

pressuposto <strong>de</strong> confiança em troca <strong>de</strong> benefícios conquistados pelo chefe local para tornar-se<br />

objeto indiferenciado <strong>de</strong> barganha nas épocas eleitorais 23 . Historicamente, a figura do chefe<br />

político confun<strong>de</strong>-se com o cabeça <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> compadrio. Em época eleitoral ou fora<br />

<strong>de</strong>la, durante o ano todo, essa figura acaba por fazer o elo <strong>de</strong> ligação entre as necessida<strong>de</strong>s e<br />

carências das pessoas e o po<strong>de</strong>r público.<br />

Humberto – O cabo eleitoral era aquela figura que fazia o trabalho <strong>de</strong> levar o cara que tava<br />

doente pro hospital, até comprar o remédio. Então ele tinha uma li<strong>de</strong>rança. Funcionava assim.<br />

Então o voto era muito mais o reconhecimento do que praticamente uma compra. ‘Eu voto<br />

nele porque quando eu preciso <strong>de</strong>le ele está aí me servindo’. Era a retribuição <strong>de</strong> uma troca.<br />

Hoje é diferente, hoje é compra.<br />

Atualmente, a manutenção da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> dos clientes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior esforço e<br />

competência dos chefes, já que se ampliaram as forças político-partidárias em competição. De<br />

todo modo, mesmo sofrendo modulações ao longo do tempo, as relações clientelistas<br />

permanecem na forma <strong>de</strong> um padrão ético pessoalizante das relações sociais. Nesse padrão, a<br />

noção clássica e universal <strong>de</strong> indivíduo como cidadão está contraposta à idéia <strong>de</strong> pessoa em<br />

uma socieda<strong>de</strong> relacional, característica básica da socieda<strong>de</strong> brasileira, conforme as análises<br />

<strong>de</strong> DaMatta ( 1985;1987) e outros como Bezerra (1995) sobre “o que faz do brasil, Brasil”.<br />

23 Sobre o comportamento eleitoral em Florianópolis, ver Carreirão (2002).

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