30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

117<br />

2.3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A título <strong>de</strong> conclusão, gostaria <strong>de</strong> sugerir alguns temas críticos que me parecem advir<br />

imediatamente dos casos abordados neste texto. A idéia é contribuir teoricamente para o<br />

<strong>de</strong>bate antropológico sobre os problemas <strong>de</strong> interpretação suscitados pelos novos fenômenos<br />

i<strong>de</strong>ntitários do mundo contemporâneo.<br />

Em meio a um revigoramento dos estudos sobre i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> em todo o mundo, fala-se<br />

muito hoje em “crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2000; HALL, 2000;<br />

WOODWARD, 2000). Em realida<strong>de</strong>, a expressão é um lugar-comum que serve para indicar<br />

que há “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s em crise”. Minha posição sobre isso é a seguinte: a meu ver as “crises”<br />

são congênitas ás i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, já que tanto os processos <strong>de</strong> formação da subjetivida<strong>de</strong><br />

(ligados à auto-i<strong>de</strong>ntificação) quanto aqueles que representam coletivida<strong>de</strong>s, não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong><br />

ser o efeito das múltiplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gestão dos vários “eus” que transitam em “nós” <strong>de</strong><br />

acordo com os múltiplos e cambiantes contextos comunicacionais que vivemos ao longo da<br />

vida. Nas palavras <strong>de</strong> Hall (1995 apud Hall 2000: 112), as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser<br />

“pontos <strong>de</strong> apego temporário às posições-<strong>de</strong>-sujeito que as práticas discursivas constroem<br />

para nós”, sempre <strong>de</strong> acordo com a situação interativa especifica. Quando a situação muda, o<br />

sujeito muda <strong>de</strong> posição e passa a falar a partir <strong>de</strong> uma nova sutura que se dá entre ele (o<br />

sujeito) e as estruturas <strong>de</strong> significação que dão legibilida<strong>de</strong> e coerência ao seu novo lugar <strong>de</strong><br />

fala. Esta passagem é em si um lugar <strong>de</strong> crise, crise <strong>de</strong> mudança do lugar <strong>de</strong> fala. Portanto,<br />

supor que as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s estão em crise carrega consigo a idéia contrária <strong>de</strong> que há<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s imunes a crises ou a qualquer <strong>de</strong>scentramento, o que revela uma concepção<br />

característica do i<strong>de</strong>al Iluminista que imagina um sujeito estável, fixado na sua consciência.<br />

Isto posto, gostaria <strong>de</strong> levantar quatro questões para <strong>de</strong>bate que me parecem<br />

fundamentais com vistas a uma qualificação mais produtiva dos instrumentos <strong>de</strong> análise

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!