O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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argentinos, uruguaios, gaúchos, paulistas e europeus, “gentes <strong>de</strong> fora” que se adaptaram e<br />
permaneceram no lugar. Isto fica claro no relato abaixo <strong>de</strong> um pescador que mantém um<br />
restaurante muito conhecido em toda a ilha. Ele faz uma menção a outro lugar da ilha, o Canto<br />
da Lagoa, para mostrar como, no Pântano do Sul, existem boas relações dos nativos com os<br />
“<strong>de</strong> fora”. O relato exemplifica também as relações <strong>de</strong> rivalida<strong>de</strong> entre duas comunida<strong>de</strong>s<br />
tradicionais da ilha:<br />
Jair – Essas pessoas que vieram pra lugares assim como o Pântano do Sul são pessoas que<br />
estão interessadas também em se integrar à comunida<strong>de</strong>. Eu percebo isso. Querem conhecer a<br />
comunida<strong>de</strong>, fazer amiza<strong>de</strong> com as pessoas. Vêm somar. E as pessoas daqui aceitam isso,<br />
quando vem somar. Elas não aceitam quando você vem dividir. Nesse meio tem pessoas que<br />
querem dividir e elas logo se sentem rejeitadas e vão embora. Sabe? Então é isso, eu vejo essa<br />
diferença. As pessoas que vieram são outro tipo <strong>de</strong> gente, que vieram ajudar, vieram lutar<br />
também. É por isso que há essa integração no Pântano do Sul que a gente chama dos nativos<br />
com os <strong>de</strong> fora. Existe uma integração muito gran<strong>de</strong> sabia? Os poucos que não estão<br />
integrados aqui na comunida<strong>de</strong> foram os que não aceitaram mesmo e ainda tão morando aqui<br />
<strong>de</strong> teimoso. Não é a praia <strong>de</strong>les. É uma minoria. Mas a maioria mesmo... Você po<strong>de</strong> chegar<br />
hoje no Pântano do Sul, pedir qualquer informação a qualquer pescador, que ele vai te ouvir e<br />
vai dar a informação. Se você parar no Canto da Lagoa e pedir uma informação, meu amigo, o<br />
cara te olha atravessado, tchau e vai embora. Respon<strong>de</strong> secamente, nem fica conversando,<br />
bate um papo, enten<strong>de</strong>u? São relações diferentes.<br />
4.2.2 Os ensaios da Banda Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão da Ilha<br />
Na Freguesia do Ribeirão, constituem espaços privilegiados <strong>de</strong> observação da<br />
sociabilida<strong>de</strong> os ensaios da Banda Nossa Senhora da Lapa, uma socieda<strong>de</strong> musical, fundada<br />
em 1896. Todo sábado à noite eles se reúnem. A banda tem 30 componentes, sendo a maioria<br />
do sexo masculino. Muitos vêm <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s da Ilha, mas os mais jovens, são da<br />
freguesia. Todo o trabalho é voluntário. Apenas o mestre recebe um pró-labore da Prefeitura<br />
Municipal, assim como os mestres das duas outras bandas da cida<strong>de</strong>: a Filarmônica Comercial<br />
e a Banda <strong>de</strong> Amor a Arte. O repertório é eclético, compreen<strong>de</strong>ndo clássicos, música <strong>de</strong><br />
igreja, <strong>de</strong> carnaval, <strong>de</strong> novelas etc.<br />
marginalizado mais ainda, aqui no interior da ilha” (Informação verbal, 19.05.2001). Para mais referencias, ver