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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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evolução. O ponto <strong>de</strong> vista nativo, ao se reproduzir o seu contexto específico, não po<strong>de</strong>ria<br />

mais ser incorporado ao da cultura do antropólogo e <strong>de</strong> seus leitores. Como escreve Cal<strong>de</strong>ira<br />

(op. cit.:140), “no máximo os pontos <strong>de</strong> vista po<strong>de</strong>riam ser justapostos pelo antropólogo, este<br />

ser privilegiado que se movimenta entre dois mundos, conhece o estranho, o <strong>de</strong>scobre e traduz<br />

essa perspectiva diferente para os leitores <strong>de</strong> sua própria cultura”.<br />

Note-se então que a partir <strong>de</strong> Malinowsky, as etnografias passam a carregar consigo<br />

uma consciência sobre a diversida<strong>de</strong> do mundo, revelando em seus textos a idéia <strong>de</strong> um outro<br />

radicalmente diverso <strong>de</strong> nós. A <strong>de</strong>nuncia do etnocentrismo e o relativismo cultural<br />

constituíram conseqüências centrais da criação <strong>de</strong>sse novo contexto. No entanto, ao <strong>de</strong>marcar<br />

a diferença e a distancia entre as culturas e, com isso, a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que uma fosse<br />

avaliada em função dos valores e da visão da outra, acabou-se paradoxalmente dificultando a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar a diferença como crítica cultural, com efeito, uma das bases em<br />

que se assentou a antropologia da época, por exemplo, na crítica ao racismo (Cal<strong>de</strong>ira, op.<br />

cit.: 140).<br />

O mo<strong>de</strong>lo malinowskiano <strong>de</strong> conhecimento do outro, que po<strong>de</strong>mos categorizar como<br />

clássico, continua a <strong>de</strong>finir o status quo da disciplina (GELLNER, 1997: 7). O lugar do<br />

“pesquisador” e do “nativo” ficaram aí bem <strong>de</strong>finidos: o pesquisador, treinado<br />

aca<strong>de</strong>micamente, saía do seu contexto <strong>de</strong> origem e encontrava o nativo, distante, iletrado,<br />

freqüentemente além-mar. Depois <strong>de</strong> passar algum tempo junto a algum grupo estranho,<br />

retornava a sua origem e escrevia textos em que retratava culturas como um todo. Se aqui,<br />

recorrermos à “matriz disciplinar” <strong>de</strong> Cardoso <strong>de</strong> Oliveira (1988: 16), po<strong>de</strong>mos afirmar, sem<br />

dúvida, que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ssa relação atravessou os três paradigmas tradicionais da disciplina:<br />

o “racional-estruturalista”, o “estrutural-funcionalista” e o “culturalista”. Preten<strong>de</strong>mos<br />

DaMatta, 1987: terceira parte; Clifford, 1983).

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