30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

242<br />

<strong>de</strong>mais para que nos <strong>de</strong>moremos sobre nossas infâmias passadas ou nosso atual<br />

<strong>de</strong>salento. O que se carece é <strong>de</strong> uma antropologia disposta a assumir seu formidável<br />

patrimônio e a levar adiante suas muitas e valiosas intuições.<br />

Celebrando esta “reantropologização”, Sahlins (p. 52) vai dizer que “os povos que<br />

sobreviveram fisicamente ao assédio colonialista vêm tentando incorporar o sistema mundial<br />

a uma or<strong>de</strong>m ainda mais abrangente: seu próprio sistema <strong>de</strong> mundo”. Para o antropólogo<br />

americano, a tarefa da antropologia agora é uma só: ao invés <strong>de</strong> reforçar a ilusão <strong>de</strong> que a<br />

resistência dos povos indígenas é um arremedo <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong> imposto pela “Gran<strong>de</strong><br />

Narrativa” do capitalismo (GUPTA & FERGUSON, 1992: 19), sua tarefa é a<br />

“indigenização da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>” (SAHLINS, op. cit. : 53). Enfim, argumenta o autor, contra<br />

este pessimismo, que as culturas não são ilusões póstumas da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, nostalgias <strong>de</strong><br />

um “primitivo” que está sempre <strong>de</strong>saparecendo, mas a nomeação e a distinção <strong>de</strong> um<br />

fenômeno único: a organização da experiência e da ação humanas por meios simbólicos<br />

(SAHLINS, op. cit.: 41).<br />

Em que pese ser, o processo do conhecimento, <strong>de</strong>masiado lento, este é o fenômeno do<br />

qual os antropólogos terão sempre que dar testemunho. Se, como mostrei na introdução, as<br />

técnicas para compreen<strong>de</strong>r as culturas classicamente estudadas não possuem uma relevância<br />

eterna, a crítica pós-mo<strong>de</strong>rna do trabalho <strong>de</strong> campo e da etnografia não têm como corolário o<br />

fim da “cultura” e, sim, que a cultura assumiu uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas configurações, nas<br />

quais a antropologia <strong>de</strong>veria aproveitar a oportunida<strong>de</strong> para se renovar, <strong>de</strong>scobrindo novos e<br />

inéditos padrões da experiência humana. Esta <strong>de</strong>scoberta se dará, como mostra a história da<br />

disciplina, na luta aberta entre dados e teorias.<br />

A par das mais sofisticadas elaborações teóricas, serão as etnografias, sejam realistas<br />

ou surrealistas, que atualizarão o inventário das formas humanas vividas. Elas são, <strong>de</strong> fato,<br />

as coisas que ficam, as que verda<strong>de</strong>iramente contam para o aprimoramento e a renovação do

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!