O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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acontecendo sem que se possa dizer que aconteceu” (MORAES FILHO, 1983, p. 31). Essa<br />
posição <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> sua concepção filosófica segundo a qual aquilo que é percebido pelo<br />
intelecto humano como realida<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> estruturas fixas e substancias sólidas, em<br />
verda<strong>de</strong>, é essencialmente movimento, processo, continuida<strong>de</strong> e inter<strong>de</strong>pendência. Não há<br />
“socieda<strong>de</strong>” como entida<strong>de</strong> analítica a priori, mas processos <strong>de</strong> interação e relações<br />
recíprocas, sejam elas já cristalizadas em estruturas permanentes ou em relações interpessoais<br />
transitórias. Em busca da <strong>de</strong>finição do objeto próprio da sociologia, Simmel faz uma distinção<br />
essencial entre forma e conteúdo, para estabelecer o papel da sociologia em relação a outras<br />
ciências 4 . A tarefa da sociologia (note que este é um período <strong>de</strong> autonomização da sociologia<br />
como ciência), consiste em abstrair do caos interativo da experiência humana as formas <strong>de</strong><br />
sociação (“sociation” é termo mais usado entre os simmelianos americanos), que seriam os<br />
modos básicos <strong>de</strong> inter-relação <strong>de</strong> elementos sociais: antagonismo e conflito, <strong>de</strong>pendência e<br />
autonomia, dominação e subordinação, representação, relação intra e extra-grupo, o princípio<br />
<strong>de</strong> estruturação do espaço e tempo, o princípio da quantida<strong>de</strong> (MAYNTZ, 1976, p. 615). Os<br />
conteúdos – que só analiticamente po<strong>de</strong>m ser separados das formas – in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>stas e<br />
<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>ixados às outras disciplinas: ativida<strong>de</strong> econômica, religião, lei, sexo, educação<br />
etc. Em realida<strong>de</strong>, estas formas <strong>de</strong> sociação, para Simmel, seriam princípios abstratos<br />
orientadores da investigação do socius e, como tais, análogos aos tipos i<strong>de</strong>ais weberianos, aos<br />
“princípios estruturais” <strong>de</strong> Levi-Strauss ou às “estruturas estruturantes” <strong>de</strong> Bourdieu.<br />
(TEIXEIRA, 2000). A meu ver, o interessante é que Simmel propõe um método para a análise<br />
microssociológica, algo que era novo em seu tempo. Suas análises discretas sobre a<br />
coqueteria, a conversação, o segredo, o estrangeiro, o aventureiro, o tato e a sociabilida<strong>de</strong> –<br />
que ele <strong>de</strong>signava como a forma lúdica (“play-form” = tradução do original alemão) <strong>de</strong> toda<br />
associação e a forma arquetípica <strong>de</strong> toda socialida<strong>de</strong> humana – revelam como articulava<br />
4 Cf. a excelente introdução <strong>de</strong> Donald Levine à obra do filósofo alemão in Levine (1971).