O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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formação de um conselho regional de entidades envolvendo prefeituras, grupos folclóricos,
universidades, fundações culturais e organizações não governamentais 18 . Dentre os inúmeros
papéis do Núcleo, um dos mais importantes é o de elo de ligação com parceiros institucionais
do Arquipélago dos Açores, no desenvolvimento de ações e eventos bilaterais.
Humberto, um dos fundadores do núcleo, professor universitário, educador e militante
açorianista, relata abaixo o histórico da organização e os efeitos do trabalho, denotando a
idéia de fixação de uma cultura regional e os efeitos obtidos nas comunidades, através de uma
pedagogia de valorização da memória coletiva e da recuperação da auto-estima:
Humberto - Em 1984 eu propus criar o Núcleo de Estudos Açorianos. Por incrível que pareça
ficaram com o projeto, só que ele nunca saiu do papel. Quando em 1993, nós resolvemos
assumir o espaço, chamamos um grupo de pesquisadores, de pessoas que estavam lutando
individualmente. Então ficou um grupo básico de luta, que começou a percorrer o litoral. O
pessoal dizia que era louco né, onde já se viu falar em cultura açoriana... então, sempre houve
a açorianidade, o estudo da cultura açoriana não é uma coisa nova. Já em 1948 através do
Congresso de História, a questão foi posta na mesa, só que foi posta na mesa por intelectuais
para intelectuais e ficou no meio de intelectuais. A comunidade não tomou conhecimento
deste movimento. Então o que é que vai acontecer a partir de 1993? A Universidade vai
começar a se preocupar de ir à comunidade não apenas para buscar informação mas para
buscar informação, codificar e devolver. Ela passa a orientar aquelas comunidades para a
importância daqueles valores culturais, daquilo que nós chamamos do orgulho cultural. Então
nesse ir e vir, vai-se construindo em sete, oito anos, uma coisa fantástica. Se conseguiu dar
uma visualização litorânea e não de ilha. Isso foi a primeira grande conquista. Hoje, quando
se fala em cultura de base açoriana, se fala no litoral de Santa Catarina, de Itapoá a Passo de
Torres. Cada um com valores específicos e que eles fazem questão de assumir essa
identidade. Então este diferencial vai gerar o encaminhamento natural de uma atenção maior
por parte dos veículos de comunicação e do próprio empresariado. Como eu já afirmei, há um
redespertar. Como não se tinha base sólida para afirmar nada, com esse trabalho, com a
mostra dos eventos, do AÇOR [Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina], com os cursos,
onde as pessoas começam a usar a linguagem da cultura de base açoriana e os professores que
foram treinados, mais de 3.000 !. Quer dizer: as pessoas começaram a ter um outro
referencial nas próprias comunidades. As crianças estão sendo orientadas. Se você ver os
desfiles de 7 de setembro dos últimos 7 anos, você vai ver a cultura colocada na avenida! Em
tudo quanto é lugar. O que parecia um tabu foi levado para a avenida: carro de boi, canoinha,
pessoal vestido de rendeira, de pescador, de agricultor, boi de mamão... botaram o bloco na
rua, o que seria inimaginável há 10 anos atrás, isso acontecer na rua!
18 Trata-se de um conselho interinstitucional, com adesão via convenio com a Universidade Federal de Santa
Catarina.