30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

30<br />

casais, em situações <strong>de</strong> contato, política internacional etc. Bateson articula o local e o global,<br />

ao mesmo tempo que dá mostras <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>scrição analítica e reflexão interpretativa fazem<br />

parte do mesmo movimento narrativo.<br />

Ao que tudo indica, "Naven", mais que ser referencia aos pós-mo<strong>de</strong>rnos é, antes,<br />

referência à empresa antropológica como um todo, porque reflete uma luta aberta entre<br />

dados e teorias. Sua verda<strong>de</strong>ira autorida<strong>de</strong> autoral não resi<strong>de</strong> no estilo ou técnicas <strong>de</strong><br />

persuasão do tipo “eu testemunhei”, mas na clareza com que <strong>de</strong>smascara premissas<br />

epistemológicas. Sua retórica é, por assim dizer, não textual mas, epistemológica, conceitual.<br />

Como escreve o autor do prólogo a edição espanhola <strong>de</strong> Naven:<br />

Para llevar a cabo esta labor <strong>de</strong> analizar la retórica <strong>de</strong> la autoridad etnográfica,<br />

Bateson no necesita crear una posición antagônica com los maestros <strong>de</strong> la disciplina,<br />

los gloriosos antepasados cujo realismo ingenuo hay que <strong>de</strong>moler, sino que tiene<br />

bastante con efectuar una reconstrucion <strong>de</strong> su própria retórica a base <strong>de</strong> contarnos<br />

las falacias en las que él mismo ha incurrido; nada le interesa tanto como el error<br />

próprio”(ZULAIKA, 1990:VI).<br />

Retornando à minha indagação sobre que tipo <strong>de</strong> etnografia o leitor terá pela frente.<br />

Seria então uma “colagem”? Provavelmente. Mas porque não? Seriam textos <strong>de</strong>sconexos?<br />

Não. Em realida<strong>de</strong>, o trabalho é uma gran<strong>de</strong> variação sobre um mesmo tema, exercício que<br />

Marcel Mauss fez com a dádiva, a prece, a pessoa, a nação. O leitor verá aqui a composição<br />

<strong>de</strong> um texto econômico, dividido em partes temáticas que começam com preliminares e<br />

consi<strong>de</strong>rações sobre os melhores enquadramentos, seguidos <strong>de</strong> seções contextuais e<br />

<strong>de</strong>scritivas e terminando com uma recuperação dos achados e a abertura <strong>de</strong> caminhos <strong>de</strong><br />

análise. No seguimento da leitura, haverá sempre uma intenção sugestiva, aquela que<br />

convida a pensar junto, sem com isso, per<strong>de</strong>r em substancialida<strong>de</strong>. Espero com isso não<br />

cansar o leitor mas estimula-lo a um trabalho <strong>de</strong> exploração do texto. É uma escrita<br />

itinerante. Tenta ser clara e comunga com o leitor a proposta <strong>de</strong> um texto aberto, cúmplice da<br />

idéia que inúmeras possibilida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser adotadas, incluso as que adotei, num processo<br />

sempre sugestivo <strong>de</strong> reflexivida<strong>de</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!