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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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envolvente, passaram a reivindicar seus direitos, instaurando aquilo que Oliveira (op. cit.: 20)<br />

chama “processo <strong>de</strong> territorialização”, no sentido <strong>de</strong> uma reorganização social ampla que<br />

envolve (a) a criação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica diferenciadora; (b) mecanismos políticos<br />

especializados; (c) controle social sobre recursos ambientais; (d) a reelaboração da cultura e<br />

da relação com o passado A partir <strong>de</strong> então os “índios do Nor<strong>de</strong>ste” são colocados como<br />

objetos <strong>de</strong> investigação por parte dos antropólogos sediados nas universida<strong>de</strong>s da região.<br />

Mas o que fizeram os índios “misturados” do Nor<strong>de</strong>ste? Secularmente submetidos às<br />

pressões assimilacionistas, primeiro com os al<strong>de</strong>amentos missionários (sécs. XVII e XVII) e<br />

<strong>de</strong>pois com os Postos Indígenas (séc. XX), os índios recriaram suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnicas,<br />

distintas das dos brancos regionais e <strong>de</strong> modo a aten<strong>de</strong>r às exigências oficiais da política<br />

indigenista. Com um patrimônio cultural permeado por diferentes fluxos e tradições,<br />

compartilharam crenças e narrativas sobre o passado (VALLE, 1999); através das viagens dos<br />

pajés e outras li<strong>de</strong>ranças peregrinas, recuperaram um ritual político - o toré -<br />

(GRUNEWALD, 1993, 1999; ARRUTI, 1999), que se tornou o diacrítico <strong>de</strong> uma indianida<strong>de</strong><br />

nor<strong>de</strong>stina, protagonizado sempre que é necessário <strong>de</strong>marcar as fronteiras entre índios e<br />

brancos 33 ;criaram metáforas para a memória genealógica como a “árvore Pankararu”<br />

(ARRUTI, 1999), uma solução classificatória para o fenômeno da “mistura” e que com o par<br />

tronco/rama, estabelece a distancia <strong>de</strong> ego <strong>de</strong> seus ancestrais “reais ou imaginários”, a<br />

inclusão ou exclusão <strong>de</strong> parentes <strong>de</strong> outros grupos étnicos, e po<strong>de</strong> ampliar-se até a inclusão<br />

<strong>de</strong> todos os índios da região por oposição aos civilizados; enfim, os índios do Nor<strong>de</strong>ste<br />

repensaram sua mistura, reelaboraram suas tradições e se apropriaram positivamente da<br />

distinção negativa entre índios “puros” e índios “misturados” (OLIVEIRA, ibid.: 26).<br />

33 Sobre o toré, vale registrar que há evidências fortes - tipicamente na literatura folclórica - <strong>de</strong> que o rito<br />

tradicionalmente constitui uma linguagem ritual indígena franca pan-nor<strong>de</strong>stina. (MENEZES BASTOS, 2002).

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