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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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Preocupávamos com o <strong>de</strong>senvolvimento da comunida<strong>de</strong>. Dentro das respostas para o caos em<br />

que Florianópolis se encontrava, veio a idéia do Congresso. No Congresso se discutia, o que é<br />

que houve, porque que é que a cida<strong>de</strong> não se <strong>de</strong>senvolve? Foram para o congresso com essa<br />

idéia: que a colonização açoriana teria sido um fracasso. (...) Durante o congresso, aqueles<br />

que pensavam em fracasso resultaram numa certa <strong>de</strong>cepção, porque mudaram o ângulo <strong>de</strong><br />

observação. Então agora tinha que se buscar o que é que tem <strong>de</strong> positivo, que respostas vamos<br />

encontrar, vamos resgatar nossas origens, abrir os arquivos. Aí então saiu logo em seguida,<br />

em 1950, a Faculda<strong>de</strong> Catarinense <strong>de</strong> Filosofia, essa gente foi dar aulas e começaram a<br />

escrever trabalhos.<br />

Nota-se no <strong>de</strong>poimento que nos bastidores do Congresso - realizado em Florianópolis,<br />

sob o patrocínio do Governo A<strong>de</strong>rbal Ramos da Silva – havia uma reação local aos ataques<br />

daqueles que, em nome do progresso material das regiões <strong>de</strong> colonização alemã, justificavam<br />

as razões do atraso econômico <strong>de</strong> Florianópolis pelo fracasso do elemento açoriano 6 . Mas<br />

por que este sujeito era um fracassado? Que visões <strong>de</strong> ciência informavam naquela altura, a<br />

classificação do homem litorâneo como “o praiano” portador <strong>de</strong> “uma <strong>de</strong>generescência<br />

morfológica e psicológica, que teria sido fruto, principalmente <strong>de</strong> uma alimentação pobre em<br />

carboidratos e vitaminas, tornando-o um ´tipo social <strong>de</strong> pequena estatura, indolente, resignado<br />

e esquizotímico´”? (CÂMARA, [1940] apud GARCIA JUNIOR, op. cit.: 19). Note que o<br />

“praiano” era nada mais que o análogo do Jeca Tatu <strong>de</strong> Monteiro Lobato, caboclo mestiçado e<br />

indolente, incapaz <strong>de</strong> evolução num Brasil rural que resistia aos progressos da civilização 7 .<br />

Estamos aqui diante da sociologia positivista <strong>de</strong> um Oliveira Viana, marcada pela absorção<br />

dos <strong>de</strong>terminismos científicos, das teorias sobre clima, solo e, sobretudo, das teorias<br />

racialistas sobre mestiçagem, <strong>de</strong> base biológica e psicológica. Tais concepções informaram as<br />

6 Há inúmeros textos sobre o significado histórico e os efeitos daquele Congresso nos campos da pesquisa<br />

histórica, do ensino superior e das tradições e movimentos intelectuais entre as elites letradas do Estado. Basta<br />

dizer que o evento abriu espaços para os novos ares do mo<strong>de</strong>rnismo literário e historiográfico brasileiro<br />

(CORREA, 1998); foi marcado pelo luso-culturalismo gilbertiano e fundou em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong> a idéia <strong>de</strong><br />

construção da açorianida<strong>de</strong>, criando as bases para uma agenda <strong>de</strong> esforços historiográficos no sentido <strong>de</strong><br />

consolida-la inicialmente como versão da brasilida<strong>de</strong> e, porteriormente, já com as gerações subseqüentes, como<br />

emblema <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> transnacionalizada. Neste sentido o Congresso teve o significado <strong>de</strong> um evento<br />

ritual, um evento comunicativo. Recomendo, além da leitura dos Anais originais (obra rara na biblioteca do<br />

Instituto Histórico e Geográfico <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>); a crítica <strong>de</strong> Flores (1997) e Frotscher, (2001) já referidos,<br />

sobre os ataques entre lusófilos e germanófilos na imprensa da época; a coletânea: BRANCHER, Ana.(org),<br />

1999; GARCIA JUNIOR, Edgar. 2002. E, por fim, os ANAIS do Simpósio comemorativo ao cinqüentenário do<br />

1 o Congresso <strong>de</strong> História Catarinense e 250 anos da presença açoriana em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, 8 e 9 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1998. (org) Carlos H. Correa. Florianópolis: Capes/Mec, 1998.

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