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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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88<br />

- verá em Florianópolis uma equivalente, a Fenaostra – Festa Nacional da Ostra e da Cultura<br />

Açoriana 4 .<br />

Pois bem, há até <strong>de</strong>z anos esta visibilida<strong>de</strong>, esta aceitação da “cultura açoriana” não se<br />

apresentava nestas proporções. Não havia uma festa nacional que i<strong>de</strong>ntificasse os açorianos;<br />

nos roteiros oficiais constava a “Rota da Natureza” para simbolizar um litoral absolutamente<br />

naturalizado; também no comércio eram esparsas as marcas <strong>de</strong> fantasia; e, a autoi<strong>de</strong>ntificação<br />

como açoriano (ou manezinho), restringia-se a meios intelectuais, literários,<br />

universitários.<br />

Porque houve tal mudança? Como se consolidou esta maior visibilida<strong>de</strong> da região<br />

litorânea como a região agora <strong>de</strong>finitivamente habitada por uma etnia: a dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

açorianos; portadores enfim, <strong>de</strong> uma origem, uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e tradições culturais<br />

específicas? Para respon<strong>de</strong>r tais questões farei uma pequena história das “lutas <strong>de</strong><br />

classificação” 5<br />

do habitante do litoral. Será uma historia interna sobre as sucessivas<br />

“assinaturas” <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> sob as quais estas populações foram inscritas até que se efetiva o<br />

cenário atual. Uma história marcada, nos anos 40, por lutas pela hegemonia cultural entre<br />

brasilida<strong>de</strong> e germanida<strong>de</strong> como apontadas em Flores (1997) e Frotscher (2001); marcada, a<br />

partir <strong>de</strong>ste período, pela moldura das práticas discursivas regionalizadoras que fixaram as<br />

fronteiras e tipificaram as formas <strong>de</strong> representação das etnias na geografia do Estado<br />

(GARCIA JR. op. cit.); uma história repleta, nos anos 90, <strong>de</strong> “disputas simbólicas” e<br />

inversões <strong>de</strong> estereótipos como estudados por Fantin, (2000); que consolidou uma literatura<br />

<strong>de</strong> “resgate” e afirmação como em Farias (1998, 1999, 2000, 2000a, 2001, 2002, 2002a) e<br />

4 Veja a propósito, as seguintes matérias <strong>de</strong> jornais e publicações turísticas: “Jeito <strong>de</strong> ser – os manezinhos –<br />

Jornal Diário Catarinense. 31.12.1 o /01.2000, p. 10; “Retratos <strong>de</strong> SC – As mãos que produzem arte – Jornal<br />

Diário Catarinense. 1 o .01.2001, p.42; “45 mil passaram pelo 3 o Festival Nacional da Ostra e da Cultura Açoriana<br />

- Jornal A Notícia. 17.10.2002; Florianópolis – Ilha Açoriana. Florianópolis: Editora Mares do Sul, 1998. Ed.<br />

bilíngüe. Florianópolis – Ilha <strong>de</strong> Sonhos. Florianópolis: Editora Mares do Sul, 2002, Ed. bilíngüe.<br />

5 Em um texto clássico, Bourdieu (1989:107-132) dá elementos para a interpretação do que chama lutas pela<br />

imposição <strong>de</strong> uma representação legitima da idéia <strong>de</strong> região, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ou etnia, casos particulares, segundo o<br />

autor, das lutas pelo “monopólio <strong>de</strong> fazer crer e fazer reconhecer” uma certa visão do mundo social pela sua di-

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