O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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<strong>de</strong> piadas) em que mais atenção é dada aos aspectos performáticos, às diversas modulações <strong>de</strong><br />
contexto, às mudanças <strong>de</strong> enquadre (frame) nas situações <strong>de</strong> fala etc, sempre levando em<br />
conta contextos etnográficos particulares 31 .<br />
Mais pesquisas nessa direção po<strong>de</strong>riam contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento do campo<br />
da etnografia da fala, da performance cultural ou das narrativas performáticas (LANGDON,<br />
1999). Penso que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste campo, ao lado do estudo dos sistemas <strong>de</strong> dádiva e<br />
das formas não capitalistas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, constitui o que <strong>de</strong>signo o programa geral <strong>de</strong> uma<br />
etnografia das relações sociais no Brasil. No caso da minha pesquisa, gostaria <strong>de</strong> ressaltar que,<br />
conforme as <strong>de</strong>scrições apresentadas neste capítulo, a jocosida<strong>de</strong>, sendo uma forma<br />
generalizada <strong>de</strong> interação, isto é, não restrita a um comportamento padronizado entre grupos<br />
corporados, mas presente no cotidiano, nas festas religiosas, nos botecos, nas ruas, ranchos <strong>de</strong><br />
pesca, nas embarcações, nos encontros familiares, nas mesas <strong>de</strong> dominó, na profusão dos<br />
apelidos, nos bingos entre mulheres, nos jogos <strong>de</strong> futebol, em programas <strong>de</strong> rádio e TV, nas<br />
conversas entre criadores <strong>de</strong> pássaros, nas repartições públicas etc, apresentar-se-ia com<br />
melhor rendimento analítico fosse encarada como um código <strong>de</strong> metacomunicação a partir da<br />
noção <strong>de</strong> “enquadre” (frame) <strong>de</strong> Gregory Bateson (1998, p. 57-69). Para que se entenda, o<br />
enquadre é uma forma <strong>de</strong> metacomunicação em que a mensagem enviada inclui um conjunto<br />
<strong>de</strong> instruções <strong>de</strong> como interpretá-la. Assim, no dia a dia dos nativos, quem participa das<br />
interações face to face, sabe quando a mentira está operando como enquadre naquele<br />
momento da situação interativa. Ou em outro, quando o enquadre são palavrões e ofensas<br />
verbais, sabe-se quando não é mais o caso <strong>de</strong>stes insultos jocosos, na medida que o “brincar”<br />
com o outro está no limite <strong>de</strong> virar pancadaria etc. Então, o enquadre muda para um código<br />
tipo narrador-público. Aqui, as formas <strong>de</strong> rir também <strong>de</strong>finem as mudanças <strong>de</strong> enquadre e os<br />
31 Um exemplo bem aplicado <strong>de</strong>ssa linha, ligada à sociolingüística interacional (RIBEIRO & GARCEZ, 1998) e<br />
inspirada nos estudos <strong>de</strong> Bateson (1998[1972]) e Goffman (1981, 1998), está em Comerford (1999, 2002),<br />
relativamente a um estudo das relações <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira entre trabalhadores rurais no Brasil.