O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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laços que interessam ser continuados por razões <strong>de</strong> natureza cultural e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica.<br />
Isto fica claro no texto oficial do organismo governamental responsável pelo apoio as<br />
comunida<strong>de</strong>s açorianas no estrangeiro:<br />
O <strong>de</strong>créscimo da emigração, a que se tem vindo a assistir nos últimos anos, coloca<br />
algumas interrogações à continuida<strong>de</strong> da nossa presença cultural nos países <strong>de</strong><br />
acolhimento e ao interesse pelas raízes que urge <strong>de</strong>spertar nas gerações mais jovens.<br />
Tanto mais que, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo o Governo uma integração nesses mesmos países por<br />
forma a evitar o isolamento e a discriminação, não po<strong>de</strong>, por outro lado, travar o<br />
processo imparável da aculturação. Aculturação que se afigura, na perspectiva da<br />
integração, <strong>de</strong>sejável até certo ponto, não ignorando porém a língua e a matriz<br />
cultural dos antepassados. Este é, portanto, um momento crucial na vida das<br />
Comunida<strong>de</strong>s. Ou se investe no futuro da nossa presença no estrangeiro,<br />
particularmente nas Américas, ou se per<strong>de</strong> irremediavelmente a dimensão <strong>de</strong> um<br />
povo que rejeitou confinar-se às ilhas, mas que as transportou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si e as <strong>de</strong>u a<br />
conhecer ao mundo (In: http://www.pg.raa.pt/comunida<strong>de</strong>s/estatisticas.html)<br />
O fim <strong>de</strong> um longo período histórico, marcado por sucessivas ondas migratórias dos<br />
açorianos, abre mais explicitamente as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong> natureza global, em que<br />
temas como a açorianida<strong>de</strong>, as memórias da migração, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> diaspórica, a formação <strong>de</strong><br />
re<strong>de</strong>s transnacionais, as comunicações virtuais, a política cultural, as formas <strong>de</strong> organização<br />
comunitária e as diferenças entre as comunida<strong>de</strong>s inseridas em contextos nacionais<br />
específicos, aparecem como campos privilegiados <strong>de</strong> pesquisa. É nesta direção que este<br />
capítulo contribui. Enquanto a migração portuguesa continental, tem sido amplamente<br />
estudada do ponto <strong>de</strong> vista global e, sobretudo no espaço europeu (BASTOS, 2000), pesquisas<br />
sobre os açorianos, são mais esporádicas e pontuais (CHAPIN, 1989; ROSA & TRIGO, 1994;<br />
TEIXEIRA, 1999; OLIVEIRA, 2001). No caso da antropologia brasileira, as pesquisas<br />
<strong>de</strong>senvolvidas por Feldman-Bianco (1991, 1992a, 1992b, 1995, 1996, 1997, 2000) sobre as<br />
narrativas da sauda<strong>de</strong>, políticas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e os modos <strong>de</strong> construção da etnicida<strong>de</strong>, classe e<br />
gênero entre os imigrantes portugueses, constituem um marco pioneiro neste campo. Seus<br />
trabalhos, constituem a primeira referencia entre os antropólogos brasileiros para estudos que<br />
privilegiam o paradigma do nation-building português, associado à problemática das políticas<br />
<strong>de</strong> imigração e etnicida<strong>de</strong>. Em relação aos açorianos, nota-se que seus trabalhos não partem