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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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interpretações do Brasil nas primeiras décadas do século XX. 8 Em termos <strong>de</strong> formação<br />

discursiva, estamos aqui diante <strong>de</strong> um realismo naturalista, em que o meio <strong>de</strong>fine o homem e<br />

seu <strong>de</strong>stino, para além <strong>de</strong> elaborações culturalistas mais sofisticadas. Esta ultimas chegariam<br />

tardiamente a <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, na senda da sociologia gilbertiana pela afirmação da<br />

mestiçagem cultural brasileira. No Congresso, a teorias culturalistas irão se confrontar com as<br />

teorias racialistas, até então com razoável visibilida<strong>de</strong> nos meios intelectuais catarinenses.<br />

Durante o Congresso e <strong>de</strong>pois, já sob seus efeitos, como bem aponta Frotscher (op.cit:p.477):<br />

Toda a imagem negativa do homem do litoral <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, que o<br />

i<strong>de</strong>ntificava como ´indolente, incapaz´, foi então <strong>de</strong>slocada, ao mesmo tempo em<br />

que se assinala o papel do assentamento açoriano como importante na construção da<br />

brasilida<strong>de</strong> no estado. O elemento açoriano é valorizado tomando como critério seu<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> assimilação, sendo representado como aquele que <strong>de</strong>u seu sangue, sua vida<br />

e bravura para a construção da brasilida<strong>de</strong> em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>.<br />

A partir <strong>de</strong> então, tendo sido o “homem do litoral” positivado como um “homem <strong>de</strong><br />

tradição”, tratava-se <strong>de</strong> consolidar o seu papel histórico, <strong>de</strong> “abrir os arquivos” e fazer valer<br />

uma nova literatura historiográfica que produzisse o passado memorável <strong>de</strong>ste homem; um<br />

homem atado ao presente por suas tradições sobreviventes e que <strong>de</strong>mandavam urgentes<br />

esforços <strong>de</strong> pesquisa e registro. Tratava-se <strong>de</strong> produzir uma memória como suporte da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural do homem açoriano e foi este o esforço realizado nas décadas seguintes,<br />

num processo que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> agenciamento tradicionalista da historia catarinense<br />

e que se diversificou nas missões e <strong>de</strong>scrições dos folcloristas da Comissão Catarinense <strong>de</strong><br />

Folclore, em textos <strong>de</strong> historia regional dos historiadores documentalistas do Instituto<br />

Histórico e Geográfico <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong> e nas narrativas do romance regionalista dos<br />

escritores abrigados na Aca<strong>de</strong>mia Catarinense <strong>de</strong> Letras. 9 Em geral, po<strong>de</strong>mos dizer que no<br />

período entre as décadas <strong>de</strong> 50 e 70, assistimos à consolidação <strong>de</strong> uma produção literária,<br />

7 Para um contraponto com o caipira paulista, ver o clássico <strong>de</strong> Antônio Cândido ([1964] 1975).<br />

8 Para uma excelente cobertura crítica <strong>de</strong>ste período, cf. Bastos (1993) e Seyfert ( 1996, assim como toda a<br />

coletânea).

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