O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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como secretarias <strong>de</strong> estado, associações culturais, bancos, empresas e comércio. Reúnem<br />
pessoas <strong>de</strong> vários países, com várias cidadanias e das mais diversas profissões como<br />
professores, escritores, ativistas culturais, intelectuais, acadêmicos, empresários,<br />
comerciantes, funcionários públicos etc. Esses encontros refletem a retórica da política<br />
cultural do governo, que pauta sua ação em dois vetores: no estímulo à maior integração<br />
social, econômica, política e cultural das comunida<strong>de</strong>s açorianas nos países <strong>de</strong> acolhimento e<br />
na valorização das raízes, tradições e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural do Arquipélago (AÇORES, 2001)<br />
13 . Nesses espaços, ouve-se relatos, por vezes dramáticos sobre a experiência migratória<br />
açoriana, <strong>de</strong>poimentos, análises, críticas e propostas <strong>de</strong> trabalho 14 . Constituem verda<strong>de</strong>iros<br />
“laboratórios” acerca da complexida<strong>de</strong> das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s hifenizadas dos imigrantes e<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes (açor-americano, luso-açoriano, açoriano-brasileiro etc) e da própria<br />
reivindicação coletiva e algo metafórica da condição diaspórica que a todos engloba. São<br />
espaços <strong>de</strong> afirmação das diversas “posições <strong>de</strong> sujeito” no jogo i<strong>de</strong>ntitário da açorianida<strong>de</strong>,<br />
ou do lugar <strong>de</strong> cada um na geografia política da diáspora açoriana. Há posições <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais<br />
próximas, como a <strong>de</strong> um “regressante” ou <strong>de</strong> um emigrante (ou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte) <strong>de</strong> imigrante<br />
dos Estados Unidos ou Canadá, até as mais distantes, como a <strong>de</strong> “<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes históricos”,<br />
oriundos <strong>de</strong> lugares on<strong>de</strong> a migração encerrou há séculos como no Uruguai, Sul do Brasil e<br />
Hawaii.<br />
Neste espectro tão diferenciado, a diversida<strong>de</strong> e a singularida<strong>de</strong> das trajetórias<br />
individuais não permitem avançar uma generalização, a não ser que nos ocupemos <strong>de</strong> um<br />
grupo específico, como fiz com os brasileiros (ver cap. 2). Neste sentido, apresentarei aqui um<br />
modo <strong>de</strong> classificação das narrativas i<strong>de</strong>ntitárias que caracterizam esta diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes e<br />
as tensões que elas traduzem, tanto quanto o potencial que elas representam para estudos<br />
13 Ver Feldman-Bianco (1992b; 2000), para uma análise da produção <strong>de</strong> políticas culturais <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> a partir<br />
das re<strong>de</strong>finições do papel transnacional <strong>de</strong> estados-nação caracterizados historicamente como exportadores <strong>de</strong><br />
imigrantes.<br />
14 Estes relatos estão publicados nos Anais (1978, 1986, 1991 e 1995, 2002) dos principais encontros já