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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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passado, <strong>de</strong>screvi retrospectivamente as lutas por hegemonia cultural entre representantes<br />

elitizados das principais etnias formadoras daquele estado brasileiro.<br />

Recorrendo a inúmeros registros e analisando-os, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os <strong>de</strong>bates no I Congresso<br />

Catarinense <strong>de</strong> Historia (1948), Boletins da Comissão Catarinense <strong>de</strong> Folclore, Semanas <strong>de</strong><br />

Estudos Açorianos e a ação institucional do Núcleo <strong>de</strong> Estudos Açorianos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong> <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, mostrei como os ativistas açorianistas locais foram removendo<br />

da cena pública catarinense, o antigo estereótipo do “praiano indolente”, versão local do<br />

“Jeca Tatu” <strong>de</strong> Monteiro Lobato. Construindo aquilo que se chama uma “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

categórica” (BOURDIEU, 1989: 142; BARRETO FILHO, 1999: 92), erigindo uma série <strong>de</strong><br />

mecanismos simbólicos, estes entrepreneurs da cultura conquistaram espaço e aceitação para<br />

a idéia <strong>de</strong> uma “cultura açoriana” regional.<br />

O “resgate” das origens açorianas junto às comunida<strong>de</strong>s litorâneas, num processo<br />

mais massivo e menos elitizado, foi situado no contexto dos anos 1990, em que a<br />

mo<strong>de</strong>rnização tardia, a eclosão da expansão urbana, do turismo, o crescimento dos fluxos<br />

migratórios para o litoral do Estado e a maior visibilização dos antigos modos <strong>de</strong> vida das<br />

pequenas localida<strong>de</strong>s praianas colocaram em pauta os riscos reais <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecimento das<br />

tradições culturais locais.<br />

Referi-me a estes mecanismos -reunidos sob o rótulo <strong>de</strong> "resgate"- como um esforço<br />

sistemático <strong>de</strong> agenciamento da memória coletiva, concebido como missão <strong>de</strong> salvamento <strong>de</strong><br />

uma cultura em perigo - adormecida, esquecida ou minimizada. Quais foram estes<br />

mecanismos que instauraram a forma imaginada <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> etnicamente<br />

diferenciada <strong>de</strong> açoriano-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes?:<br />

1. A reiteração <strong>de</strong> um “mito fundador”, percebido como uma “saga” ou “epopéia”<br />

atlântica dos primeiros emigrantes, ocorrida entre 1748 e 1756;

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