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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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209<br />

Note-se que cada dono representa, como proprietário dos meios <strong>de</strong> produção (barcos e<br />

re<strong>de</strong>s) a formação <strong>de</strong> uma força-tarefa, a camaradagem. Os camaradas formam a equipe <strong>de</strong><br />

trabalho para a captura do peixe no mar, enquanto que a socieda<strong>de</strong> é o conjunto das<br />

caramadagens, que incluem não apenas os pescadores, mas também seus parentes em terra. A<br />

escolha <strong>de</strong> um novo camarada <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão do patrão, que po<strong>de</strong> ser influenciada pelas<br />

necessida<strong>de</strong>s familiares do pescador. O patrão não é necessariamente o dono da canoa, mas<br />

um mestre experiente que vai dirigir a operação <strong>de</strong> captura:<br />

Jair – A escolha já é uma coisa que vem <strong>de</strong> anos. Só po<strong>de</strong> entrar se tiver vaga. Quando morre<br />

uma pessoa, aí você fala com o patrão. Você pe<strong>de</strong> uma vaga. Aí ele vai dizer: ‘Nosso número<br />

é sempre trinta camaradas’. A escolha é por família, por habilida<strong>de</strong> e também pela<br />

necessida<strong>de</strong>. Assim, vamos botar ele porque ele precisa. É tudo isso. Só aqui no Pântano do<br />

Sul, pra você ter uma idéia, tem 180 pescadores que fazem parte <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>.<br />

A divisão <strong>de</strong> trabalho é altamente especializada, tendo no topo da camaradagem, o<br />

patrão da canoa:<br />

Jair – Tem os vigias. Os vigias são aqueles que ficam. Você vê aqui que hoje tinha três, seu<br />

Coimbra, seu Domingos, seu Carlinhos. Os vigias são as pessoas que saem <strong>de</strong> manhã <strong>de</strong> casa<br />

e vão pegar o seu local <strong>de</strong> vigia. Pegam seu posto e ficam o dia todo ali, observando o mar e<br />

vendo se o cardume vem. Lá na praia, ficam os pescadores, os remeiros, o patrão da canoa<br />

que faz o cerco. Tem o chumbereiro, que bota o chumbo na re<strong>de</strong>, tem o cabo, que segura a<br />

ponta da re<strong>de</strong>. Tudo isso são hierarquias que vai influir <strong>de</strong>pois na repartição do peixe. O dono,<br />

na verda<strong>de</strong>, não apita nada. Nessas horas, quem apita mais é o patrão da canoa. O patrão po<strong>de</strong><br />

ser o dono ou não. Então os vigias dão o sinal. Conforme o sinal que ele <strong>de</strong>r será a quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> peixe que virá. Já se sabe se é pra botar uma canoa ou duas, três ou quatro; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do<br />

sinal. E todo mundo sabe qual é o sinal. Aí o vigia lá dá o sinal, a canoa cerca e todo mundo<br />

puxa o peixe pra cima e vamos contar. Conta-se o peixe e vamos dividir.<br />

A divisão geral do produto por unida<strong>de</strong> é feita entre os camaradas e os donos, na base<br />

<strong>de</strong> dois terços para os camaradas e um terço para os donos:<br />

Jair – Aqui no Pântano do Sul, dois terços é pra camaradagem e um terço é pros donos das<br />

canoas. Porque, na maioria dos locais, é meio a meio. Em todo lugar é assim. Só no Pântano<br />

do Sul que é dois terços. Nós criamos isso aqui, todo mundo aceitou e quem teve essa<br />

vantagem foram os pescadores. Então o que é dois terços? Se mata 1200 tainhas, então divi<strong>de</strong><br />

por três. Dá 400. Então 800 ficam para os pescadores e 400 para os donos das re<strong>de</strong>s. Então

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