O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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catalã. Para marcar a sua distintivida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>mais catalães, os andorranos, segundo a<br />
pesquisa, fazem referência a diversos operadores simbólicos. Cito:<br />
A terra ou território é certamente o primeiro <strong>de</strong>sses operadores, on<strong>de</strong> o nós são os<br />
filhos da terra e os outros são os recém-chegados. Como segundo operador<br />
simbólico tem-se a história real ou suposta (as lendas), que remonta à época <strong>de</strong><br />
Carlos Magno, fundador do Principado <strong>de</strong> Andorra. O sangue é o terceiro operador,<br />
marcador <strong>de</strong> uma ancestralida<strong>de</strong> genética, isto é, ser "andorrano <strong>de</strong> raiz" ou,<br />
conforme a expressão catalã, andorrans <strong>de</strong> soca. A língua aparece como o quarto<br />
operador, pois se i<strong>de</strong>ntifica univocamente todos os catalães <strong>de</strong> Espanha e França,<br />
possui um peso simbólico extremamente importante para a cidadania andorrana,<br />
uma vez que Andorra é o único Estado que tem o idioma catalão por língua oficial.<br />
A proprieda<strong>de</strong>, seja individual ou comunitária, também é um atributo <strong>de</strong><br />
andorranida<strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar. Finalmente, temos o que se<br />
po<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominar <strong>de</strong> caráter, entendido como "o resultado da acumulação histórica",<br />
como uma "variável abstrata" <strong>de</strong> conteúdo psicológico, porém central na construção<br />
simbólica da cidadania, a bem dizer, da essência da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> andorrana (cf.<br />
D'Argemir e Pujadas, 1997, p. 134 apud Cardoso <strong>de</strong> Oliveira, op. cit).<br />
Note acima que excetuando a questão da proprieda<strong>de</strong>, todos os <strong>de</strong>mais operadores,<br />
guardadas as <strong>de</strong>vidas proporções e o contexto especifico, apontam para o caso açoriano em<br />
<strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>.<br />
Vejamos outro caso: o dos “Kristang” <strong>de</strong> Malaca, na Malásia oci<strong>de</strong>ntal, estudados por<br />
O`Neill (1995). Segundo o autor, “Kristang” significa (1) a língua crioula dos euroasiáticos <strong>de</strong><br />
Malaca; (2) pessoa católica; (3) membro auto-i<strong>de</strong>ntificado do grupo étnico dos luso<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes.<br />
Ressalvadas todas as ambigüida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tradução mencionadas por O`Neill<br />
(i<strong>de</strong>m: 32), “Kristang” reporta-se ao povo português <strong>de</strong> Malaca. Refere-se também ao<br />
“Portuguese Settlement”, bairro criado pela administração inglesa, no final da década <strong>de</strong> 20<br />
do século XX, para reunir as famílias <strong>de</strong> luso-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes mais carentes. Pois bem o que<br />
constatou o autor neste caso? Uma população etnicamente minoritária (a etnia chinesa é<br />
majoritária), cujas ligações com Portugal são extremamente remotas no espaço e no tempo<br />
(vínculos administrativos cortados em 1641 com a ocupação holan<strong>de</strong>sa), constrói sua<br />
distintivida<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> “emulações” e “monumentalizações” absolutamente refratadas das<br />
tradições culturais da “terra-mãe”. Emular tem dois sentidos: rivalizar, competir e imitar,<br />
prestigiar. Rivalizar é quando os figurinos, danças e canções apresentadas pelos “ranchos