30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

113<br />

catalã. Para marcar a sua distintivida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>mais catalães, os andorranos, segundo a<br />

pesquisa, fazem referência a diversos operadores simbólicos. Cito:<br />

A terra ou território é certamente o primeiro <strong>de</strong>sses operadores, on<strong>de</strong> o nós são os<br />

filhos da terra e os outros são os recém-chegados. Como segundo operador<br />

simbólico tem-se a história real ou suposta (as lendas), que remonta à época <strong>de</strong><br />

Carlos Magno, fundador do Principado <strong>de</strong> Andorra. O sangue é o terceiro operador,<br />

marcador <strong>de</strong> uma ancestralida<strong>de</strong> genética, isto é, ser "andorrano <strong>de</strong> raiz" ou,<br />

conforme a expressão catalã, andorrans <strong>de</strong> soca. A língua aparece como o quarto<br />

operador, pois se i<strong>de</strong>ntifica univocamente todos os catalães <strong>de</strong> Espanha e França,<br />

possui um peso simbólico extremamente importante para a cidadania andorrana,<br />

uma vez que Andorra é o único Estado que tem o idioma catalão por língua oficial.<br />

A proprieda<strong>de</strong>, seja individual ou comunitária, também é um atributo <strong>de</strong><br />

andorranida<strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar. Finalmente, temos o que se<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominar <strong>de</strong> caráter, entendido como "o resultado da acumulação histórica",<br />

como uma "variável abstrata" <strong>de</strong> conteúdo psicológico, porém central na construção<br />

simbólica da cidadania, a bem dizer, da essência da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> andorrana (cf.<br />

D'Argemir e Pujadas, 1997, p. 134 apud Cardoso <strong>de</strong> Oliveira, op. cit).<br />

Note acima que excetuando a questão da proprieda<strong>de</strong>, todos os <strong>de</strong>mais operadores,<br />

guardadas as <strong>de</strong>vidas proporções e o contexto especifico, apontam para o caso açoriano em<br />

<strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>.<br />

Vejamos outro caso: o dos “Kristang” <strong>de</strong> Malaca, na Malásia oci<strong>de</strong>ntal, estudados por<br />

O`Neill (1995). Segundo o autor, “Kristang” significa (1) a língua crioula dos euroasiáticos <strong>de</strong><br />

Malaca; (2) pessoa católica; (3) membro auto-i<strong>de</strong>ntificado do grupo étnico dos luso<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes.<br />

Ressalvadas todas as ambigüida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tradução mencionadas por O`Neill<br />

(i<strong>de</strong>m: 32), “Kristang” reporta-se ao povo português <strong>de</strong> Malaca. Refere-se também ao<br />

“Portuguese Settlement”, bairro criado pela administração inglesa, no final da década <strong>de</strong> 20<br />

do século XX, para reunir as famílias <strong>de</strong> luso-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes mais carentes. Pois bem o que<br />

constatou o autor neste caso? Uma população etnicamente minoritária (a etnia chinesa é<br />

majoritária), cujas ligações com Portugal são extremamente remotas no espaço e no tempo<br />

(vínculos administrativos cortados em 1641 com a ocupação holan<strong>de</strong>sa), constrói sua<br />

distintivida<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> “emulações” e “monumentalizações” absolutamente refratadas das<br />

tradições culturais da “terra-mãe”. Emular tem dois sentidos: rivalizar, competir e imitar,<br />

prestigiar. Rivalizar é quando os figurinos, danças e canções apresentadas pelos “ranchos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!