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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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2. A <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> uma fronteira no mapa multiétnico do Estado (ali on<strong>de</strong> somente<br />

antes estava a “rota da natureza”);<br />

3. A produção <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> eventos evocativos;<br />

4. A divulgação <strong>de</strong> um repertório <strong>de</strong> tradições culturais;<br />

5. Uma representação positiva <strong>de</strong> si na figura do “manezinho”;<br />

6. A implementação <strong>de</strong> viagens e “peregrinações” pelo litoral catarinense e pelo<br />

Arquipélago dos Açores.<br />

Detalhei cada um <strong>de</strong>stes operadores e comparei o caso dos açorianos <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong><br />

com o dos Andorranos europeus, dos Kristang <strong>de</strong> Malaca e dos índios do Nor<strong>de</strong>ste brasileiro.<br />

Conclui que, a <strong>de</strong>speito das reiteradas criticas contra os “essencialismos” na comunida<strong>de</strong> dos<br />

antropólogos, estes casos mostram como os atores políticos dos movimentos étnicos valem-se<br />

amplamente <strong>de</strong> categorias “essencialistas” para legitimar suas <strong>de</strong>mandas por reconhecimento<br />

e construir esferas <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>. Tais são: o apelo a uma trajetória histórica sem negar<br />

uma origem fundadora, a noção <strong>de</strong> “sangue”, a idéia <strong>de</strong> “alma” ou “essência” da cultura, a<br />

tradição como evocação, o culto ao folclore, a musealização do passado, a i<strong>de</strong>ntificação com<br />

lealda<strong>de</strong>s primordiais, a retórica da autenticida<strong>de</strong> e da pureza.<br />

Estes exemplos <strong>de</strong> reelaboração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnicas, que a principio foram<br />

rotulados como casos <strong>de</strong> invenção da tradição, apontam para as duas dimensões<br />

indispensavelmente constitutivas da etnicida<strong>de</strong>, sem as quais ela não po<strong>de</strong> ser pensada. A<br />

etnicida<strong>de</strong> supõe necessariamente uma trajetória (que é histórica e <strong>de</strong>terminada por múltiplos<br />

fatores) e uma origem (que se traduz nas experiências individuais e nas narrativas afetivas <strong>de</strong><br />

pertencimento). O que seria próprio das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnicas é que nelas a atualização histórica<br />

(invenções <strong>de</strong> tradições) não anula o sentimento <strong>de</strong> referencia à origem. A polarida<strong>de</strong> entre as<br />

abordagens “instrumentalistas” (BARTH, 1969) e “primordialistas” (GEERTZ, 1963) da<br />

etnicida<strong>de</strong> supõe estas duas dimensões contraditórias e é da resolução simbólica e coletiva

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